sábado, 29 de abril de 2017

Pontas soltas


Uma série de acontecimentos internacionais destacados pela imprensa não pode deixar tranquilos os mais lúcidos ou menos incautos. Um pouco por toda a parte vão-se registando casos que suscitam inquietação, sobretudo pela inércia ou abordagem deficiente dos mesmos.
Uma letargia parece trespassar na sociedade, em geral, face a um notório recrudescimento de movimentos populistas. A crescente desconfiança ou descrença na classe política e nalguns governos, por parte dos cidadãos, tem conduzido a elevadas taxas de abstenção e/ou dispersão de votos nos actos eleitorais, e bem assim, contribuído para o enfraquecimento da democracia e do Estado de direito. São vários os partidos que se têm servido do populismo para criar um caldo de cultura propenso a todo o tipo de condutas discriminatórias. 
Por cá, na Europa, vemos que os partidos ditos tradicionais, que se têm revezado nos governos de vários países ao longo dos anos, há muito abandonaram a social-democracia, e com ela a defesa do Estado social, para se renderem à cartilha neoliberal, tornando-se reféns dos mercados e da finança. O combate ao desemprego, à corrupção, à fuga aos impostos, aos paraísos fiscais, ao desequilíbrio tácito e táctico de poderes urdidos em Bruxelas, e a luta por uma sociedade solidária, igualitária e inclusiva pouco mais têm passado do que vagas promessas políticas, minando assim a confiança entre eleitores e eleitos.
Embora ainda persistam alguns grupos de cidadãos organizados que tentam fazer valer a sua voz de indignação na rua ou noutro tipo de acções cívicas, são ainda muitos aqueles que não trocam o conforto do lar, privilegiando as redes sociais como espaço de intervenção e (des)informação. E muitas das figuras da elite política sabem (oportunisticamente) como fazer uso delas. Daí a existência de demagogos e “ilusionistas” com poder, como aquele que preside à maior potência do mundo, Donald Trump, que faz do Twitter o seu canal de comunicação oficial. Veja-se, o Brexit deve-se, entre outras inabilidades políticas, como as de David Cameron, à campanha impostora levada a cabo por uma figura chamada Nigel Farage. Felizmente que por outras bandas isso não aconteceu, como na Áustria, ou mais recentemente na Holanda, onde os partidos nacionalistas e xenófobos não chegaram ao poder. Mas desenganem-se aqueles que julgam que o problema entorpecerá. Ele continua aí, alimentado pelo substrato do terrorismo e do medo. Em França esperamos pelo resultado da segunda volta das eleições presidenciais. Mesmo que se confirme o que profetizam as sondagens, ou seja, a eleição de Macron, Marine le Pen já conseguiu uma vitória: o alargamento da implantação regional da extrema-direita.
Na Turquia, Erdogan viu acrescido os seus poderes com a vitória no referendo para alterações à Constituição, ocorrido a 16 de Abril. Fica assim aberto o caminho para reforçar o seu regime autocrático, as purgas e a sua permanência no poder até 2029. É de fazer inveja a algumas monarquias!
Do outro lado do atlântico há a lamentar o que se passa na Venezuela, com outro populista a valer-se de todos os expedientes para controlar a oposição e as manifestações de rua, afundando cada vez mais o país numa crise política, económica e social. No Brasil, os escândalos de corrupção sucedem-se, com o envolvimento de diversos políticos, muitos deles membros do actual governo de Temer.
Numa clara tentativa de rejuvenescimento do imperialismo americano, Donald Trump vai fazendo manifestações de força, testando os seus brinquedos militares. O mais recente foi tão-só a designada “mãe de todas as bombas”. Ironia das ironias chamar de “mãe” a algo tão devastador! Os alarmes soam no sudeste asiático, com outro demente, Kim Jong-un, a exibir o seu arsenal e prosseguindo os testes com mísseis. 
São estas algumas das pontas soltas que têm como protagonistas uma série de “messias”, que vão anunciando a sua boa nova, sempre em nome do povo e dos mais desprotegidos, contra as elites, mas cuja acção se sustenta no nacionalismo, xenofobia, proteccionismo, prepotência, imperialismo, etc.