sábado, 25 de agosto de 2018

Khan Tengri

Foi montanha que elegi para escalar este verão. Imponente, bela e desafiadora. Com os seus 7010m de altitude, o Khan Tengri é o ponto mais alto do Cazaquistão. Na língua uigure (povo de origem turcomena que habita principalmente a Ásia Central) o seu nome quer dizer "Senhor dos espíritos" ou "Senhor do Céu". Pertence a um grande sistema de cordilheiras da Ásia Central designado de Tian Shan, na região fronteiriça entre o Cazaquistão, Quirguistão e a Região Autónoma Uigur de Xinjiang, na China ocidental. 
A expedição decorreu ao longo da primeira quinzena de Agosto. Como é habitual nestas andanças, há todo um trabalho de adaptação à grande altitude, que passa essencialmente por um processo chamado de aclimatação, ou seja, por alterações que o organismo sofre a nível fisiológico, devido à redução dos níveis de oxigénio. Juntam-se ainda as baixas temperaturas e o nível reduzido de humidade. Em termos práticos, um alpinista tem de obedecer a um plano de treino/ascensão, que passa por sucessivas subidas e descidas da montanha, entre os diversos acampamentos instalados em diferentes altitudes, pernoitando neles, até ao momento em que, depois de se sentir física e mentalmente preparado, decide atacar o cume. Portanto, foram duas semanas de sobe e desce entre campos de altura.
Tudo decorreu bem até ao dia da decisão de investida ao cume. Sentia-me aclimatado, fisicamente forte e determinado em enfrentar o colosso. Contudo, no dia “D” o mau tempo decidiu impor-se, reservando-me um dia de neve e vento intensos, que fizeram com que abortasse o ataque ao cume. Ainda reservei mais dois dias para nova tentativa, os que me sobravam antes de embarcar no voo que me traria de regresso a Portugal, mas a sorte não me sorriu. Nem a mim, nem a um grupo de alpinistas de Singapura que se seguiu. 
Entretanto, durante a estadia na montanha atingi o topo do ombro de uma montanha adjacente, chamada Chapaev, ponto de passagem obrigatório para ascender ao Khan Tengri pela face norte, a uma altitude de 6150m. 
Apesar de não ter alcançado o cume, a experiência conseguida não deixou de ser gratificante, pelo desafio que constituiu, por aquilo que aprendi/desenvolvi e também pela fruição do entorno, que é de cortar a respiração. 
Fica o desejo de lá regressar. Já conheço a via, o material necessário e até a estratégia mais adequada, ou com probabilidade de maior sucesso. Veremos se dessa vez o voltarei a fazer só ou acompanhado.
Deixo aqui o link do vídeo da expedição: https://www.youtube.com/watch?v=2S1KD-_OmOY&feature=youtu.be