1.
A crise dos refugiados tem sido, de forma alarve, aproveitada para favorecer o
recrudescimento de nacionalismos e da xenofobia habitualmente a eles associados,
fazendo daqueles desafortunados o bode expiatório dos problemas sociais e
económicos que a Europa tem vivido. Os atentados vieram ainda piorar o clima. Todavia,
esta não passa de uma cortina de fumo utilizada para tentar dissimular as más
políticas que vêm sendo implementadas em vários países da União Europeia. A
austeridade, ditada pelo Tratado Orçamental e ao sabor das diabruras da finança
e dos mercados, continua bem vincada e cegamente implementada por um grupo de
autocratas, comprometendo cada vez mais aquela Europa que foi idealizada pelos
seus fundadores e que, lembremos, assentava em valores de respeito pela dignidade humana, liberdade, democracia, igualdade, Estado de Direito e direitos Humanos.
Figuras como Nigel Farage, Viktor Orbán, Marine Le
Pen, Norbert Hofer, Geert Wilders ou Beppe Grillo, medram um pouco por todo o
lado, à boleia do populismo e da demagogia. E a primeira grande conquista, por
sinal icónica e catalisadora, aconteceu no outro lado do Atlântico, com Donald
Trump!
Há quem defenda que o surgimento e/ou ascensão destes
actores no espaço político se deve a um desencanto dos cidadãos para com
aqueles que nas últimas décadas os têm governado. No geral, por partidos que
por cá vulgarmente designamos de “centrão”. Denunciam a falência da
social-democracia e da democracia cristã, que se rendeu ao neoliberalismo,
levando à debilitação do Estado Social.
Então o que leva as pessoas a deixarem-se seduzir
por um qualquer “ilusionista”, que por vezes, e uma vez no poder, acaba por se
revelar um autêntico déspota? Para mim, este e outros tipos de fenómenos similares
acabam sempre por atracar no cais da consciência deficitária e da iliteracia
cívica. Sim, porque nem todos (por sinal uma minoria) se deixam iludir pelos
artífices do discurso fácil e embusteiro.
Fixando-me no público eleitor, é então aí que chego
à importância da educação e formação de adultos, um parente pobre da Educação
em vários sistemas educativos, tão mal tratada ou esquecida por governos. Não
me refiro a uma educação centrada apenas em cursos de formação que visam a certificação
escolar ou profissional, mas também, e acima de tudo, no desenvolvimento
pessoal, na promoção de conhecimentos, na construção de uma consciência cívica,
que resulte numa cidadania crítica, reflexiva e participativa, e no consequente
aperfeiçoamento da democracia. Sem
esquecer naturalmente do público mais jovem, assim como de outras iniciativas
pedagógicas, enquanto os governos não tomarem consciência deste imperativo,
seguramente que seguiremos tendo cidadãos alheios à coisa pública e ao
interesse colectivo, desapegados da busca da verdade. Continuaremos a assistir
ao domínio das audiências televisivas por parte de programas marcados pela
futilidade ou grosseria. A ter espaços de fruição cultural com uma lotação aquém
da sua capacidade. Ou então, a assistir a referendos que se tornam autênticos
tiros nos pés de quem os promoveu, como aconteceu no Reino Unido, com o Brexit,
estimulando a entrada em cena das ditas figuras.
2.
As boas notícias são sempre agradáveis e por isso bem-vindas. Já os
oportunismos, sobretudo quando bacocos, são perfeitamente dispensáveis. Vem
isto a propósito dos resultados apresentados recentemente pelos relatórios do
PISA e do TIMSS, que dão conta de uma melhoria significativa, a nível
internacional, do desempenho dos alunos portugueses a nível das ciências, leitura
e matemática.
Fazendo um interregno no seu merecido exílio, Nuno
Crato logo se fez à estrada para reivindicar louros. Para além da presunção, o
ex-ministro da Educação revelou, com total desfaçatez, o seu facciosismo,
arrogância e reaccionarismo, que sempre o caracterizou. Seguiu-se Passos
Coelho, alinhado com os comentadores a soldo (todos eles deixando bem claro que
nem sequer visualizaram as capas dos relatórios), para vir defender as
políticas educativas desastrosas que o seu governo preconizou.
Começo por esclarecer que, no seu conjunto, os
estudos em causa destacam a evolução sentida ao longo de 20 anos, ou seja, de
1995 a 2015, e não apenas no período do anterior governo (2011-2015). Além
disso, não estabelecem (nem podiam), de forma implícita ou explícita, qualquer
correlação entre os resultados obtidos e as políticas “educativas” tomadas por
Nuno Crato/Passos Coelho, de que tanto se gabam - os exames do 4º e 6º anos e
as metas curriculares, e que foram unanimemente criticadas quer por aqueles que
melhor conhecem a realidade educativa e pedagógica, os professores, quer por especialistas,
pais, ex-ministros da Educação, associações de professores, Conselho Nacional
de Educação, etc. Aliás, no caso do PISA, a direita não pode reclamar a exclusiva autoria destes resultados. Desde logo,
porque os alunos de 15 anos, que agora foram avaliados, não foram (felizmente)
abrangidos pelas alterações do seu Governo, ou seja, não fizeram os tais exames
nem sofreram as mudanças de currículo e de programas! Depois, e pelo contrário,
o relatório do PISA recomenda um conjunto de políticas maioritariamente
contrárias às que foram incrementadas por Nuno Crato! Por fim, revela ainda que
neste período de 15 ano, foi precisamente
entre 2006 e 2009 que se registou o maior salto!
Curioso é ver que sobre o aumento da taxa de
retenção ou a queda no domínio das Ciências no 4º ano, aqui sim, com
responsabilidades do governo PSD/CDS, nada disseram! Pobres de espírito!
E quanto a méritos, esses vão directa e
inequivocamente para professores, alunos e para todos aqueles pais que apoiam
os seus filhos no seu cotidiano escolar, seja com o governo A ou B. Vão para todos aqueles que defendem uma escola
pública, inclusiva, multicultural e promotora da igualdade.
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