Nunca um presidente da República me divertiu tanto e deu tanto
aso à minha imaginação, como Cavaco Silva. Com as suas tiradas públicas, creio,
inclusive, que os próprios partidos da oposição encontraram, no mais alto
magistrado da nação, o melhor e mais fiel aliado que poderiam desejar. E têm-no.
Os seus “Roteiros”, onde reúne as suas principais intervenções públicas, são, veja-se, um autêntico almanaque,
que nalguns momentos chega a confundir-se com um anedotário.
Deixando o comentário desses colossais tratados filosófico-políticos
entregue a grandes vultos da cultura e sapiência, tais como os insuspeitos Camilo
Lourenço, João Miguel Tavares, João César das
Neves, Alberto Gonçalves, Nuno Melo, Pais Antunes e outros membros da academia,
vou apenas glosar alguns dos momentos mais hilariantes protagonizados pelo
nosso presidente da República, nos instantes em
que é interpelado pelos jornalistas, ou quando faz comunicações ao país.
Embora a dicção e o timbre de voz não lhe sejam abonatórios,
já para não falar na sua postura hirta e o seu caminhar autómato, certo é que
Cavaco Silva, em resposta às interpelações daqueles profissionais da
comunicação, é letal quando faz uso da sua arma secreta: “Não faço
comentários”. Toma lá! Isto só demonstra toda a sua genialidade, de fazer
inveja a um Churchill. Faz-me lembrar uma resposta que por vezes me era dada,
quando era miúdo (embora com outras intenções!), e que era: “Calado dizes
tudo!”.
Sem o mínimo rigor cronológico, simplesmente porque não
estou para me dar a esse trabalho, começaria pela reforma de Cavaco Silva.
Dissera ele, em tempo idos, que a sua miserável reforma de 10.000€ mal dava
para pagar as suas despesas. Mas alguém duvida? Só mesmo essa seita costumeira
de invejosos e arruaceiros para condenar o nosso estimado presidente,
esquecendo-se da freima que é governar uma moradia como a do Palácio de Belém. Já
alguma vez pensaram na conta da água, agravada pela rega diária das centenas de
metros quadrados de jardim que o rodeiam? Na da electricidade, agravada pelo
uso intensivo do meio privilegiado de ‘comunicação’ de Cavaco Silva, o Facebook,
para manter um animado e elucidativo monólogo com, como ele diz, os “cidadões”?
E a conta do telefone? E o mordomo? Não me perguntem qual deles! A criadagem? Espanta-me
que Isabel Jonet ainda não tenha tomado nas mãos este caso humanitário dramático!
Só há uma em que não estou de acordo com o nosso presidente,
aquela da penosa operação aritmética que há pouco tempo fez, a propósito da
eminente saída da Grécia da zona euro. Dizia então o nosso presidente que se se
desse o Grexit, teríamos que subtrair
uma unidade a 19 (os países do Eurogrupo), resultando daí 18 unidades. Ora eu
estou mais inclinado para a equação que alguns reputados economistas apontam, e
que é: 19 – 1 <=> 19 – PIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha)
E que dizer de alguns dos condecorados pelo nosso
presidente, tais como, Zeinal Bava, Miguel Horta e Costa, Dias Loureiro, Oliveira e Costa…?
Mas a melhor de todas, foi quando, no dia do anúncio
da marcação da data das próximas eleições legislativas, Cavaco Silva defendeu
que o próximo governo deverá (reparem, eu não disse “deveria”!) ter o apoio de
uma maioria parlamentar, pensando obviamente numa coligação PSD/CDS. Disso não
tenho a menor dúvida, pois segundo fontes fidedignas (as mesmas que violam
sistematicamente o segredo de justiça), no dia anterior, enquanto preparava a
dita e complexa comunicação frente ao espelho da casa de banho, o nosso
presidente envergava o equipamento alternativo do FCP, das temporadas 1997/98 e 1998/99. Lembram-se, aquele de cores
laranja e azul?
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