“Nem só o que cria riqueza e emprego tem o direito de
erguer os olhos para o céu em busca de uma luz que, em regra, lhe é recusada”.
José Jorge Letria
O Plano de Promoção das Artes (PPA), que decorre pelo
segundo ano consecutivo no Agrupamento de Escolas Gomes Monteiro, de Boticas
(AEGM), é um bom exemplo de como a escola pode e deve contribuir para a uma
educação integral dos jovens. Ao contrário do que tem sido a prática de algumas
escolas, que privilegiam o aumento da carga curricular de algumas disciplinas
(em particular, a Matemática e o Português), já de si elevada e desproporcionada
relativamente a outras que merecem igual destaque, o AEGM aposta, e bem, em
espaços de aprendizagem não formais diversificados, que se cruzam e onde o
aluno é protagonista de um processo que conta com diferentes dimensões,
nomeadamente, a cívica, artística, estética, poética, cognitiva, afectiva e
ética.
Contra o seguidismo acrítico de uma política
educativa obtusa e reaccionária, engendrada pelo pior ministro da Educação do
Portugal democrático, Nuno Crato, cujo foco, e em matéria curricular, pouco
mais foi para além da Matemática, o AEGM decidiu-se por repor alguma justiça,
ao “devolver” às disciplinas de Educação Musical, Educação Visual, Educação
Tecnológica e Educação Física alguns tempos semanais, uma vez que estas têm
vindo a ser desfalcadas de carga lectiva há vários anos. Mas este não é o
grande propósito do PPA, mas sim, e de acordo com o supra-referido, o de dar um
contributo expressivo para a formação
holística do aluno, algo cada vez mais premente nos dias que correm.
A iniciativa do PPA partiu da subdirectora do AEGM, a
professora Ana Luísa, também ela uma figura com sensibilidade estética e ligada
às artes. Não surpreende, por isso, a ideia e o interesse em avançar para um
projecto tão abrangente, que reunisse várias sinergias. Esta resposta educativa,
de enorme valor, não exclui ninguém, nem fica apenas dentro de paredes. Para
além das famílias, o PPA conta com o apoio da autarquia de Boticas.
Do pré-escolar ao 9º ano, incluindo a educação especial,
ninguém fica fora da fruição das artes e da cidadania. Assim, e começando pela
Educação Pré-Escolar, o PPA inclui o projecto “Oficina do Livro”, que integra e
cruza áreas como a dança, teatro, expressão plástica, expressão musical, cinema
e abordagem à escrita. No 1º Ciclo, o projecto “Educar para as artes” aborda,
quer no âmbito do currículo, quer nas actividades de enriquecimento curricular,
as mesmas áreas de expressão. Já nos 2º e 3º ciclos, a promoção das Artes
faz-se através das seguintes 7 oficinas: leitura & escrita, dança, música,
imagem, cor, forma e pintura. Esta última da minha responsabilidade.
Este ano, e volvidas apenas 4 semanas do início efectivo das
actividades, o agrupamento conta já, só no total dos alunos dos 2º e 3º ciclos,
com cerca de metade de inscrições voluntárias, sublinho. Ao longo do ano
lectivo certamente que muitos outros irão aderir, tal como já aconteceu no ano
lectivo anterior.
Outro aspecto de enorme
relevância, que importa aqui destacar, é o intercâmbio que se verifica entre as
diferentes áreas de expressão e as áreas curriculares.
As várias políticas
educativas erradas, algumas gravosas e contraproducentes, verificadas desde há
vários anos; a ignorância e os preconceitos relativamente às artes e à cultura,
tantas vezes espelhado por governantes e muita da opinião pública; a
desagregação da União Europeia, particularmente ao nível de políticas sociais; a
ascensão de partidos xenófobos, são apenas algumas das razões mais que
evidentes e alarmantes para se arrepiar caminho, tentar recuperar algum do tempo
perdido, e dar o espaço que as artes e a cultura merecem na educação e formação
do sujeito cidadão, quer no propósito de firmar a identidade de uma nação, quer
na difícil, mas necessária consolidação dos laços entre povos, fazendo da
Europa um verdadeiro lugar de interculturalidade e solidariedade.
De certa forma, o texto
introdutório do presidente do Parlamento Europeu, Martins Schulz, num estudo
encomendado pelo Grupo Europeu de Sociedades de Autores, apresentado a 2 de
Dezembro de 2014 à Comissão Europeia, vai ao encontro deste ditame: “A Europa está assente numa história de partilha e num rico património de
diversidade cultural. Esta herança é partilhada pelos povos da Europa como algo
cujo valor nos é comum. Isso dá à nossa União a sua identidade e é o cimento
que a mantém unida. Eis a razão pela qual a Europa deve fazer tudo o que
estiver ao seu alcance para preservar esse legado. A cultura é um dos maiores
investimentos e riquezas da Europa”.
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