No espaço de pouco
mais de mês e meio vieram a terreiro alguns estudos sobre o estado da educação
e do ensino no nosso país. Refiro-me ao “Projecto aQeduto”, ao “Programa Aves –
Avaliação Externa de Escolas”, da Fundação Manuel Leão, e ao mais recente
relatório do Conselho Nacional da Educação, intitulado, “Estado da Educação
2015”.
No seu conjunto,
estes diferentes estudos acabam por se complementar na informação prestada. De
forma resumida, debruçar-me-ei apenas sobre dois dos vários problemas
enunciados, por merecerem especial atenção. Falo da elevada taxa de retenção,
uma das maiores da Europa, e do aumento da percentagem de alunos desencantados com
a escola. O Projecto aQueduto dá conta, inclusive, que regista-se uma maior
percentagem de alunos infelizes em escolas inseridas em contextos socioeconómicos
desfavorecidos e com priores resultados.
Na denúncia de estes
e outros problemas vividos em contexto escolar, directores e associações de
professores juntam as vozes para apontar como causas a extensão dos currículos,
a desadequação de programas às idades e interesses dos alunos, turmas grandes e
horários dos mais pesados da Europa. Sobre esta última questão, a dos horários,
não posso deixar de ressaltar aquilo que vem sendo, há longos anos, uma prática
de várias escolas. Refiro-me à concentração maioritária, no período lectivo da
manhã, das disciplinas que algumas personagens designam de “estudo”! Curioso!
Isto fará supor que existem disciplinas que não são de “estudo”! Que serão eventualmente
de simples entretenimento! Que estão ali apenas para preencher currículo.
Presumo que se estarão a referir às disciplinas de expressão, como a Educação
Visual, a Educação Musical, a Educação Física, a Educação Tecnológica, etc. Na
realidade, não poucas vezes estas acabam por ter o seu espaço reservado para o
final da manhã e/ou para a tarde.
Dizem as ditas e
doutas personagens que logo pela manhã os alunos estão mais “frescos”, e por
isso, com maior aptidão e receptividade para “enfardar” com as tais disciplinas
de “estudo”. Ora bem, não vou dizer que passo a pente fino toda a produção
científica (nacional ou internacional) que se tem feito no âmbito das Ciências
da Educação, mas também não posso deixar de confessar que sou um rapaz que até tem
a preocupação e o cuidado de se manter minimamente informado nesse campo. Isto
para dizer que não conheço qualquer estudo que recomende que a Matemática, a
Fisico-Química, o Português ou as Ciências Naturais, só para dar alguns
exemplos, deverão preencher, prioritariamente, a parte da manhã dos horários
dos alunos! Se alguém tiver conhecimento de tal, ficaria muito grato se me
enviassem a respectiva referência.
Inúmeras empresas de
ponta, ou como dizem, empreendedoras, espalhadas pelos quatro cantos do mundo,
têm conseguido melhores resultados de produção graças à visão dos seus
administradores. E de que forma? Brindando os seus funcionários com actividades
físicas, de meditação ou com música antes do início do dia de trabalho. Deste
modo, acabam por proporcionar um ambiente de bem-estar e satisfação para que os
funcionários tenham um pouco mais de conforto e trabalhem melhor. O Yoga no trabalho tem proliferado no mundo
empresarial, devido ao seu comprovado contributo para a redução do stresse e
consequentemente para o aumento da produtividade.
E eis que chego onde
queria chegar, passo a redundância. Se queremos combater o crescente
desinteresse dos jovens pela escola, e contribuir para uma redução
significativa da retenção, penso que a reorganização dos horários mereceria, nalgumas
escolas, outra atenção. Arrojo, diria! Voltando atrás, não é de todo garantido que
os alunos estejam mais frescos logo pela manhã. Qual o docente que nunca deu de
caras com alunos sonolentos e a bocejar no primeiro tempo lectivo? É sabido que
muitos deles, para estarem a horas na escola, levantam-se cedo e até de
madrugada, sujeitando-se depois a muitos quilómetros de estrada. E que dizer
daqueles que vêm de estômago vazio, à espera da primeira refeição fornecida
pela escola!?
Para combater o desinteresse
pela escola e o absentismo, a Escola Básica Francisco Sanches, em Braga, decidiu,
entre outras medidas, apostar em actividades mais lúdicas e nas disciplinas de
expressão para o início da manhã; na opção por salas bem equipadas com
tecnologias, e na criação de um Conselho Consultivo de alunos, um espaço onde
pudessem colocar e discutir problemas da escola, mobilizando-os para a procura
de soluções. Neste último caso, um bom exemplo de educação para a cidadania. Os
resultados não se fizeram esperar: os índices de motivação aumentaram, o
absentismo diminuiu consideravelmente e o aproveitamento global melhorou. No
seu conjunto, estas iniciativas contribuíram para o mais importante: o combate
à exclusão social.
Compreendo, embora
discorde, que a concentração das disciplinas ditas de “estudo”(!) na parte da
manhã seja conveniente para A ou B, mas sempre ouvi dizer que a prioridade
deverão ser os alunos.
Já agora, e para encerrar, recomendo a pesquisa do significado da palavra
“estudo”.
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