É uma expressão que se ouve de tempos a tempos,
aqui e ali, normalmente dita por pessoas a partir, pelo menos, de meia-idade. No
meio escolar, então, isso é o prato do dia! No capítulo dos valores e das
atitudes dos alunos, com frequência se ouvem professores a aludir que no seu
tempo é que era, ou seja, que aqueles eram respeitadores, empenhados, que
faziam os trabalhos de casa, etc. O mais curioso é que a dita expressão
atravessa gerações. São os quarentões, os cinquentões, os sessentões e por aí
adiante a desabafar… “no meu tempo é que era!” Então em que é que ficamos?
Melhor dizendo, em que tempo é que era? Entendamo-nos!
Concluí o ensino secundário em finais da década de
80 do milénio passado. Sim, acertaram, tenho a aparência de Gandalf! Durante
esta, e ao longo dos agora designados 2º e 3º ciclo do ensino básico, vivi e
presenciei uma série de acontecimentos muito semelhantes aos que agora se
assiste. Desinteresse pelas aulas e pelo estudo, absentismo, indisciplina,
ofensas a professores, faltas disciplinares, castigos, expulsões, etc. E atenção
que não estou a falar de escolas que são notícia pelas piores razões, tal como para
os lados do Monte da Caparica ou do Cerco, só para dar dois exemplos. Passei
por duas, uma preparatória e uma secundária, relativamente pacatas, de uma
cidade de média dimensão.
Sei que na década anterior, a de 70, registavam-se
casos semelhantes. Então se falarmos dos meados dessa década, do 25 de Abril ou
do PREC, então muito haveria a dizer acerca do comportamento dos alunos… e até
de alguns professores! Se quisermos recuar ainda mais no tempo, entrando pelo
período da ditadura, em especial na década de 60, num contexto político e
social muito particular, onde vigorava a censura, a perseguição política, as
prisões arbitrárias, o conluio, etc., também poderíamos relatar um sem número
de casos (geralmente abafados) de insubordinação ou afronta à autoridade, pese
embora o controlo e disciplina rigorosos da época. As consequências, nalguns
casos, acabava no recrutamento forçado para a guerra nas ex-colónias. Neste
caso estou naturalmente a falar de alunos universitários.
Enquanto professor, e a caminho de comemorar as bodas
de prata do meu “matrimónio” com a Escola, passaram pelas minhas mãos mais de
2000 alunos, de pelo menos duas gerações. Se contar com a docência no ensino
superior, então somam-se mais umas centenas, distribuídas por mais duas
gerações. Tive um pouco de tudo. Uns mais interessados do que outros, uns mais
empenhados do que outros, uns mais cumpridores do que outros, uns mais
criativos do que outros, etc. Permiti, como continuo a permitir, momentos de
descontracção (porque são necessários, e até recomendáveis), mas sem que nunca
tal coloque a minha autoridade em causa. Daí que raramente ou quase nunca se ouçam
da minha boca críticas sobre indisciplina relativamente aos meus alunos. Não
significa isto que eu tenha sequer a veleidade de me considerar infalível ou
inatacável, e muito menos que pretenda dar lições de pedagogia a quem quer que
seja. Sabe muito bem quem melhor está por dentro da escola e do ensino, falo
obviamente dos professores, que as questões do comportamento e do empenho do
aluno dependem muito do “berço” onde ele nasce e dos pais/encarregados de
educação que o acompanha. Aliás, o recente estudo publicado pela Direcção-Geral
de Estatísticas de Educação e Ciência, sobre os resultados escolares dos alunos
do 3º ciclo do ensino público no ano lectivo 2014-2015, aponta em certa medida nesse
sentido. Por outro lado, penso que muitas vezes a questão tem mais a ver com
aquele adágio que diz que “a ocasião faz o ladrão”. Se o terreno é fértil à
errância, alguns alunos não perderão a oportunidade para se aproveitarem do
momento.
Com a mudança dos tempos, e de tudo aquilo que isso
envolve ou acarreta, num ritmo cada vez mais acelerado, como é possível
pensar-se que, no ensino, as práticas, as metodologias, as pedagogias, os
currículos, e até o modelo de autonomia das escolas, se possam manter
inalteráveis? Reflictamos, pois!
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