Sempre ouvi dizer que Portugal é um país de brandos
costumes. Não sei ao certo a origem deste enunciado. Tampouco encontro uma
razão para desdizê-lo. Muito pelo contrário!
Dos vários sinónimos que poderemos encontrar da
palavra “costume”, ressaltam “hábito”, “rotina” ou “prática”. Por arrasto,
teremos “exercício”, “desempenho”, “acção” ou “intervenção”. E aqui chego a um
conceito que me é muito caro: “cidadania”.
Já por inúmeras vezes versei este conceito em
vários espaços editoriais. Simplificando, poder-se-á
definir “cidadania” como uma acção ou prática reflexiva e concertada, num
determinado espaço e momento, com o propósito de alcançar um bem comum. Refiro-me,
naturalmente, a uma cidadania democrática e participativa, acalentada por
causas e valores comuns e superiores.
Espero não estar a ser injusto, e tampouco tomar
uma posição sobranceira sobre o que cada um pensa, mas entendo que comparativamente
com gerações anteriores, em especial com aquelas que viveram de perto o período
revolucionário pós 25 de Abril, em que efectivamente existiu um tempo de forte
intervenção pública e política na construção da democracia e de um Estado
social, e exceptuando ainda alguns casos pontuais, aqui e ali, o presente e o
passado recente tem demonstrado uma certa apatia, resignação ou comodismo da
turba. Se nalguns casos, e devido aos diferentes tipos de “iliteracia” que os
enclausura, até compreendo a inércia revelada, já noutros, que têm à sua
disposição meios e instrumentos de conhecimento e acção, que lhes permitem
fazer-se ouvir e dar um contributo, mesmo que modesto, para que algo mude para
melhor, essa mesma inércia deixa de ser compreensível.
No meu espaço de trabalho, chega a ser por vezes
confrangedor ouvir certos comentários infundados (e até contraditórios) sobre
certas questões ou temas pertinentes da actualidade política, social ou
educativa. Não raras vezes se limitam a depreciar tudo e todos aqueles que
tão-só fazem uso do seu direito de intervir na coisa pública. No caso da classe
docente, como certamente acontecerá noutras classes profissionais, o bode
expiatório acaba quase sempre por ser os sindicatos. Mas quando são chamados a
dar a sua opinião ou contributo para um melhor sindicalismo e para melhores
condições de trabalho, é vê-los a assobiar para o lado! Qualquer desculpa serve
para bater em retirada. Até uma simples petição em defesa da escola pública
declinam em assinar! Quiçá por desconhecerem o que ela significa ou representa,
o que é lamentável! Que dizer então da participação numa manifestação? Já sobre
a actividade sindical em concreto, qualquer docente pode estar ao corrente dela,
bastando para tal ler as revistas destas organizações, que se encontram
espalhadas nas salas dos professores (das escolas públicas, é claro!) ou
consultar os seus sites.
Um pouco menos de indolência e mais interesse e
respeito pela história e papel dos sindicatos na sociedade, seguramente que
contribuiria para reduzir a ignorância de muitos sobre as várias e preciosas
conquistas sociais e laborais conseguidas desde a sua origem, no século XIX.
Como o dissera uma vez numa entrevista televisiva, há pouco anos, o antigo
secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, “a democracia muito deve aos sindicatos”.
Dir-me-ão, e com razão, que nem tudo o que os
sindicatos fazem é bem feito. Nem sempre tomam ou tomaram as melhores decisões
ao longo da sua história. É verdade. Mas isso é o que acontece exactamente com outros
tipos de organizações, sejam elas de natureza política, social, solidária,
cultural, etc. Mas uma coisa é
certa, quando da luta sindical e dos seus apoiantes resultam ganhos, estes são
para todos… mesmo para aqueles que não se levantaram do sofá!
Para os críticos desavindos dos sindicatos, fieis
praticantes de uma “cidadania de poltrona”, unicamente preocupados com o
recheio da sua “despensa privada”, sugiro que experimentem viver e trabalhar
num país onde não os haja!
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