“A leitura é a mais nobre das distracções”
Marcel Proust
As notícias que têm polvilhado ad nauseam os
noticiários televisivos e a imprensa escrita, providos de uma falange de
comentadores, têm sido, grosso modo, acerca das estatísticas da COVID -19 (infectados,
mortos e recuperados), do seu impacto económico e social nos países afectados, do
ansiado regresso a uma normalidade incógnita, e da contenda no seio da União
Europeia entre norte e sul, a respeito dos impreteríveis apoios financeiros
para acudir aos danos provocados pela pandemia. Num segundo nível seguem-se as
notícias, mais ou menos especializadas, sobre as consequências do isolamento
social nas pessoas confinadas, especialmente ao nível da saúde mental. Chegados
aqui, chamou-me a atenção as formas encontradas por muita gente para ocupar o
tempo em tempo de confinamento.
Não sendo eu um usuário das redes sociais,
simplesmente porque não estou inscrito em qualquer uma delas, o que vou sabendo
acerca destas formas de ‘socialização’ virtual é apreendido através do que vou
vendo na televisão ou Internet. É impressionante a forma criativa como algumas
almas ocupam o seu tempo! Assistimos a residências transformadas em ginásios,
palcos, passarelas, circos, tribunas, etc., onde ainda se revelam dotes de
culinária e outras lides domésticas, boa parte destas, acredito eu, por quem
nunca lhes deu a devida atenção. Se nalguns casos até reconheço imaginação por
parte dos protagonistas, noutros apenas sobressai o ridículo. Para muitos, tudo
parece contar para uns momentos de celebridade!
Num país que continua a revelar défices
preocupantes ao nível da leitura e da literacia, surpreende (e não!) que parte
desse tempo, para quem dispõe dele obviamente, não seja utilizado para mergulhar
nas páginas de um livro. Quem diz um livro, diz uma revista ou um jornal, seja
em suporte de papel ou digital.
Ler é viajar e, deste modo, conhecer outras
geografias, outros lugares, outros povos, outras culturas, outros costumes. É conectarmo-nos
com o autor e/ou as personagens de um livro. É um exercício de autoconhecimento,
de descoberta de outras realidades ou perspectivas diferentes das nossas. Dizia
Fernando Pessoa, “Ler é sonhar pela mão de outrem”. É um lugar onde nos
reencontramos e nos podemos redefinir. Ler é informarmo-nos, rebatendo assim a
manipulação que decorre da desinformação que grassa nalguns órgãos de
comunicação social, mas particularmente em fóruns e nas redes sociais. É também
prepararmo-nos melhor para o exercício da cidadania. É isto e muito mais.
Dou o exemplo da leitura, como poderia dar outros,
também eles passíveis de se darem dentro de portas, recorrendo à televisão ou
Internet, nomeadamente, o chamado cinema em casa, as visitas virtuais a museus,
concertos, artes plásticas, etc. Tantas são as formas de ocupar o tempo de forma
inteligente, culta, informada e agradável. Basta para tal, vontade!
1 comentário:
Obrigado Rui, não esqueçamos ainda a atividade física.
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