Uma série de acontecimentos internacionais
destacados pela imprensa não pode deixar tranquilos os mais lúcidos ou menos
incautos. Um pouco por toda a parte vão-se registando casos que suscitam inquietação,
sobretudo pela inércia ou abordagem deficiente dos mesmos.
Uma letargia parece trespassar na sociedade, em
geral, face a um notório recrudescimento de movimentos populistas. A crescente
desconfiança ou descrença na classe política e nalguns governos, por parte dos
cidadãos, tem conduzido a elevadas taxas de abstenção e/ou dispersão de votos nos
actos eleitorais, e bem assim, contribuído para o enfraquecimento da democracia
e do Estado de direito. São vários os partidos que se têm servido do populismo
para criar um caldo de cultura propenso a todo o tipo de condutas
discriminatórias.
Por cá, na Europa, vemos que os partidos ditos tradicionais, que
se têm revezado nos governos de vários países ao longo dos anos, há muito abandonaram
a social-democracia, e com ela a defesa do Estado social, para se renderem à
cartilha neoliberal, tornando-se reféns dos mercados e da finança. O combate ao
desemprego, à corrupção, à fuga aos impostos, aos paraísos fiscais, ao
desequilíbrio tácito e táctico de poderes urdidos em Bruxelas, e a luta por uma
sociedade solidária, igualitária e inclusiva pouco mais têm passado do que
vagas promessas políticas, minando assim a confiança entre eleitores e eleitos.
Embora ainda persistam alguns grupos de cidadãos
organizados que tentam fazer valer a sua voz de indignação na rua ou noutro
tipo de acções cívicas, são ainda muitos aqueles que não trocam o conforto do
lar, privilegiando as redes sociais como espaço de intervenção e (des)informação.
E muitas das figuras da elite política sabem (oportunisticamente) como fazer
uso delas. Daí a existência de demagogos e “ilusionistas” com poder, como
aquele que preside à maior potência do mundo, Donald Trump, que faz do Twitter o seu canal de comunicação
oficial. Veja-se, o Brexit deve-se,
entre outras inabilidades políticas, como as de David Cameron, à campanha
impostora levada a cabo por uma figura chamada Nigel Farage. Felizmente que por
outras bandas isso não aconteceu, como na Áustria, ou mais recentemente na
Holanda, onde os partidos nacionalistas e xenófobos não chegaram ao poder. Mas desenganem-se
aqueles que julgam que o problema entorpecerá. Ele continua aí, alimentado pelo
substrato do terrorismo e do medo. Em França esperamos pelo resultado da
segunda volta das eleições presidenciais. Mesmo que se confirme o que profetizam
as sondagens, ou seja, a eleição de Macron, Marine le Pen já conseguiu uma
vitória: o alargamento da implantação regional da extrema-direita.
Na Turquia, Erdogan viu acrescido os seus poderes com a vitória no referendo para alterações
à Constituição, ocorrido a 16 de Abril. Fica assim aberto o caminho para
reforçar o seu regime autocrático, as purgas e a sua permanência no poder até
2029. É de fazer inveja a algumas monarquias!
Do outro lado do atlântico há a lamentar o que se
passa na Venezuela, com outro populista a valer-se de todos os expedientes para
controlar a oposição e as manifestações de rua, afundando cada vez mais o país
numa crise política, económica e social. No Brasil, os escândalos de corrupção
sucedem-se, com o envolvimento de diversos políticos, muitos deles membros do
actual governo de Temer.
Numa clara tentativa de rejuvenescimento do
imperialismo americano, Donald Trump vai fazendo manifestações de força,
testando os seus brinquedos militares. O mais recente foi tão-só a designada “mãe
de todas as bombas”. Ironia das ironias chamar de “mãe” a algo tão devastador!
Os alarmes soam no sudeste asiático, com outro demente, Kim Jong-un, a exibir o
seu arsenal e prosseguindo os testes com mísseis.
São estas algumas das pontas soltas que têm como
protagonistas uma série de “messias”, que vão anunciando a sua boa nova, sempre
em nome do povo e dos mais desprotegidos, contra as elites, mas cuja acção se
sustenta no nacionalismo, xenofobia, proteccionismo, prepotência, imperialismo,
etc.
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