Os
diagnósticos sobre a actualidade política, económica e social do nosso país têm
saído quase ao ritmo de pãezinhos quentes. Vindos dos mais diversos quadrantes
políticos, de especialistas, analistas, comentadores, de diversas entidades ou
instituições nacionais e internacionais, certo é que esses diagnósticos acabam, com
mais ou menos apêndices, por ser convergentes num ponto: Portugal tornou-se num país empobrecido e pouco
auspicioso.
Por haver gente bem mais versada do que eu para fazer diagnósticos do género, prefiro debruçar-me sobre outras questões, que no meu entender, e pela sua pertinência, merecem uma breve reflexão crítica. Mas antes, devo lembrar que o estado a que o país chegou não é culpa de um, mas de vários governos. Os do professor Cavaco Silva, por exemplo, foram os primeiros a lançarem-se em obras megalómanas, no despesismo de fundos europeus e em fraudes e na má gestão de dinheiros públicos.
Por haver gente bem mais versada do que eu para fazer diagnósticos do género, prefiro debruçar-me sobre outras questões, que no meu entender, e pela sua pertinência, merecem uma breve reflexão crítica. Mas antes, devo lembrar que o estado a que o país chegou não é culpa de um, mas de vários governos. Os do professor Cavaco Silva, por exemplo, foram os primeiros a lançarem-se em obras megalómanas, no despesismo de fundos europeus e em fraudes e na má gestão de dinheiros públicos.
Habituámo-nos
a ver que o governo que chega a S. Bento, logo se apressa a culpabilizar o
anterior, começando por bradar aos céus pelo estado em que encontrou as
finanças públicas. Do passado há que retirar ilações dos erros cometidos,
alguns deles anacrónicos, para que não se voltem a repetir no futuro, embora, e
por razões culturais, não vislumbre uma mudança significativa a este nível!
Sobre o
presente, bem, podemos começar pela mais recente manifestação nacional,
verificada no passado dia 2 de Março. Uma vez mais, o povo, dos mais diversos
extractos sociais e simpatias partidárias ou apartidários, voltou a sair à rua,
mostrando, por um lado, um cartão vermelho ao governo de Passos Coelho,
manifestando-se contra as políticas de austeridade que este tem implementado com
a bitola da troika, e que têm conduzido o país para um terreno pantanoso, e assim
ao risco de uma conflitualidade e fragmentação social; por outro, um
descontentamento contra a classe política em geral, onde se incluem,
obviamente, todos os partidos. O PS, um dos partidos do chamado arco do poder,
se realmente quer apresentar-se como alternativa credível para governar o nosso
país, se quer conquistar a confiança dos portugueses, então ainda tem muito
trabalho de casa a fazer.
Se
do governo apoiado pela coligação de direita PSD/CDS não se descortina uma
inversão nas suas políticas desastrosas, impunha-se, pelo menos, que por parte
do mais alto magistrado da nação surgisse uma posição clarificadora sobre o perigoso
rumo que o país está a tomar. Sobre os brutais sacrifícios que têm sido
impostos, em vão, aos portugueses, sobre o empobrecimento das famílias, sobre a
forma leviana com que o Ministro das Finanças sistematicamente corrige as
previsões económicas, sobre a subserviência de Passos Coelho e Vítor Gaspar à
troika, do Presidente da República, também um dos visados na referida
manifestação nacional, não vimos mais do que uma mão cheia de nada. Sobre o
desemprego galopante, a contracção da economia, o elevado número de falências
que se registam diariamente, ou o corte abusivo nos salários e pensões, apenas
se registaram umas tímidas declarações de circunstância, alguns chavões, que
surgiram apenas porque cruzou pelos jornalistas, como aconteceu no passado dia
6. Lastimosamente, Cavaco Silva, esquivando-se a questões “incómodas” quanto ao
seu desempenho, aproveitou esse momento para, uma vez mais, propagandear a sua longa
experiência política e sobre o seu número de horas diárias de trabalho, e ainda
para fazer publicidade ao seu “Roteiros VII”, remetendo os portugueses (quais?)
para a leitura do prefácio (de 20 páginas!), onde o próprio disserta sobre qual
deverá ser o comportamento de um chefe de Estado em tempos de crise, qual
“manual de boas maneiras”! Ao contrário do que acontecera no “Roteiros VI”,
onde Cavaco Silva foi crítico para com o então Primeiro-Ministro José Sócrates,
nesta nova “sequela”, Passos Coelho foi poupado!
Não
basta fazer breves e subtis comentários, em jeito de diagnóstico, como os que
fez novamente no passado dia 15, para juntar aos muitos que por aí abundam. Aos
portugueses pouco lhes dirá o que o Presidente da República discute com o
Primeiro-Ministro nas suas reuniões semanais, ou sobre o seu périplo
diplomático junto de chefes de Estado e de Governo ou de representantes de instituições internacionais, sem resultados palpáveis! Ainda
que importante, tal não basta. Enquanto chefe de Estado, enquanto garante da
soberania e da coesão nacional importa, sim, saber que medidas concretas pretende
ou estará disposto a tomar, dentro das suas competências, para ajudar Portugal
a sair do atoleiro em que se encontra. Como irá, por exemplo, o Presidente da
República responder à teimosia e arrogância de Passos Coelho, que diz, à boca cheia,
que não governa em função de manifestações, e que continuará com as suas políticas
de austeridade, custe o que custar e para além do memorando da troika? Como irá
ele (re)agir perante os resultados (esperados!) desta sétima avaliação da troika,
que reflectem o estrondoso fracasso das políticas de Gaspar & Passos?
Lembremos
que, por muito menos do que tudo aquilo que se está a passar, e sem contenção
nas palavras a que agora se remete, Cavaco Silva tratou de preparar o terreno
para despachar o governo do Eng. José Sócrates. Aqui, lembro que há dois anos
atrás, precisamente no dia 9 de Março de 2011, Cavaco Silva incitava a
sociedade civil, em particular os mais jovens, a indignarem-se e a fazerem
ouvir a sua voz de protesto. Enquanto Cavaco Silva se vai fechando no seu
silêncio, na sua inoperância, o som da Grândola irá certamente continuar a
fazer-se ouvir em qualquer lugar, público ou privado, como maior ou menor
fragor, desafinação, desalinhamento ou conhecimento da letra, seja sob a batuta
do ministro Miguel Relvas, seja sob a de um outro maestro (jogral ou não) qualquer!
Desenganem-se aqueles que pensam que a
democracia e o exercício da cidadania se ficam ou se devem circunscrever apenas
ao voto popular. Desenganem-se os que pensam ser possível governar, com ou sem
memorando de entendimento, contra um povo sacrificado, revoltado e sem
perspectivas de futuro. É que já não é só da oposição que surgem críticas às
políticas do governo de Passos Coelho. Elementos do próprio elenco governativo,
dos partidos que o suportam, bem como de ilustres figuras do PSD e do CDS
têm-se juntado ao coro de vozes que denunciam que a receita da austeridade
falhou clara e inequivocamente, e que chegou o momento de se investir, de uma
vez por todas, em políticas de crescimento e de emprego.
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