segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Estar em Babia

Recentemente frequentei um curso de alpinismo ministrado pela Escola de Alta Montanha da Federação Galega de Montanhismo, numa zona montanhosa chamada de Babia. Para quem não sabe, trata-se de uma comarca pertencente à província de Leão, comunidade autónoma de Castela e Leão, no norte de Espanha.
Babia é uma região conhecida pelo seu património e beleza natural. O reconhecimento do valor dos seus ecossistemas e elementos culturais levou a UNESCO a considera-la Reserva da Biosfera, a 29 de Outubro de 2004. Este território integra, por sua vez, a chamada Grande Reserva Cantábrica.
Na realidade, podemos encontrar aqui uma variedade de atractivos que nos irão certamente deliciar. Falamos de montanhas, rios, lagoas, pastagens, igrejas, castelos e aldeias típicas, para além de uma diversidade ao nível da fauna e da flora.
Mas, na realidade, o que me motivou a escrever estas breves linhas foi uma expressão popular que tem origem na Idade Média e que se prolongou até aos nossos dias. Tudo começou com uma conversa informal, de viagem, com um amigo galego, Alfredo Gomez, quando nos dirigíamos para o curso de alpinismo, e que se aprofundaria, posteriormente, com algumas pesquisas que empreendi[1].
Reza a história que durante aquela época Babia era a região de eleição dos reis de Leão, não só pelo descanso e pela tranquilidade proporcionados, mas também pela caça que aí abundava. Esse lugar aprazível e de repouso permitia ao rei afastar-se, por alguns tempos, dos problemas da corte. Estas ausências (mais ou menos prolongadas) do rei provocavam com frequência a inquietação dos seus súbditos e, quando confrontados com a pergunta sobre o paradeiro do seu soberano, respondiam, de forma evasiva, que o mesmo se encontrava em Babia. A expressão de que “o rei está em Babia” passou a significar que Sua Alteza se alheava ao que se passava na corte, ou seja, que não se preocupava em averiguar o que por ali se sucedia.
“Estar em Babia” tornou-se, desde então, e segundo esta versão mais popular, sinónimo de um estado de espírito situado entre o dolce far niente e o “não quero saber de nada”. “Estar na lua” ou “pensar na morte da bezerra”, são outras expressões que acabam por ter a mesma conotação.

Por vezes, e à semelhança dos reis de Leão, para me afastar ou tentar esquecer alguns dos problemas que me apoquentam, ou para ignorar algumas pessoas inconvenientes, que bem que dá jeito viajar para Babia!


[1] DIÉZ, Luís Mateo (1991). Relato de Babia. Madrid: Editorial Espasa Calpe.
http://www.babia.net/
http://encina.pntic.mec.es/
http://www.notesinspanish.com/