sábado, 29 de agosto de 2009

No vértice do Cervino

No passado dia 20 de Agosto alcancei o cume de uma montanha considerada por muitos a mais bela do mundo. Obviamente que a opinião é discutível. No entanto, é de facto uma montanha impressionante, quer pela sua beleza e forma única, quer pela exigência que coloca a quem a quiser escalar. Com os seus 4478 metros de altitude, o mítico Matterhorn (em suíço) ou Cervino (em italiano) constitui uma imponente e majestosa montanha, que se destaca na paisagem dos Alpes pela sua forma original. Assemelha-se a uma pirâmide. O seu historial é negro, pois são muitos aqueles que já lá perderam a vida… e continuam a perder. Na primeira vez em que foi escalada, a 14 de Julho de 1865, dos sete alpinistas que alcançariam o cume (Edward Whymper, Charles Hudson, Lord Francis Douglas, Douglas Hadow, Michel Croz e os Peter Taugwalder, pai e filho), apenas 3 regressariam com vida. Na descida, os restantes quatro acabariam por morrer numa queda.
Apesar de me sentir bem fisicamente, a nível anímico revelava algumas fragilidades. Valeram-me as palavras do meu Anjo da Guarda, que me deram o estímulo necessário para abraçar com coragem o desafio que se me colocava. Que bom ter um anjo da guarda!
Inicialmente estava programado escalá-la com um amigo espanhol, de Valencia, que viria a ser impedido de me acompanhar por motivos profissionais. Perante este contratempo, e dada a minha determinação em subi-la, acabei por fazê-lo em solitário até certo nível. Optando pela via mais acessível, mas mais concorrida, a via Hörnli (situada na aresta nordeste), com um desnível de cerca 1200 metros, decidi subir a montanha em duas etapas. A primeira, dos 3200 metros de altitude até aos 4000, foi na verdade conseguida em solitário. Aí decidi pernoitar num pequeno refúgio, no qual só é permitido instalar-se em caso de emergência. Uma pequena infracção necessária! Entretanto, e nesse mesmo refúgio, conheci um alpinista de nacionalidade alemã (o meu amigo Otto), que tinha os mesmos objectivos que eu (escalar toda a montanha em solitário), com o qual acabaria por acordar a subida em conjunto dos restantes 478 metros, no dia seguinte.
Diga-se, em abono da verdade e neste caso particular, que uma escalada em solitário faz-se mais rápido. No entanto, uma cordada de 2 ou 3 alpinistas proporciona maior segurança, embora nalguns casos isso possa representar um empecilho, e até algum risco.
Apesar da pressão psicológica e do desgaste físico, tudo correu bem. As vistas do cume, essas, impressionantes! Com o céu limpo pude contemplar paisagens de cortar a respiração. Um infortúnio impediu-me que as registasse. Durante a escalada, uma bolsa com uma máquina fotográfica e telemóvel que levava presa à alça da minha mochila soltou-se, tendo eu apenas tempo de a ter visto saltitar pela montanha abaixo, para acabar no abismo. Enquanto apenas forem objectos, bem vamos andando!