terça-feira, 26 de março de 2019

Na pegada de Greta Thunberg

No dia 15 deste mês assistimos, em dezenas de concelhos do país, a manifestações de jovens estudantes em defesa do meio ambiente, tendo, para o efeito, faltado às aulas. A iniciativa, designada de Greve Climática Estudantil, que ocorreu em mais de cem países, faz parte de um movimento global designado "SchoolStrike4Climate”, criado por Greta Thunberg, uma jovem sueca de 16 anos. Farta das promessas dos adultos, Greta instou políticos, governantes e outros agentes com poder de decisão a deixarem-se de hipocrisias e assumirem, de uma vez por todas, no curto/médio prazo, a implementação de medidas que efectivamente defendam o nosso planeta, tal como o alertam e recomendam os inúmeros relatórios produzidos desde há vários anos, e que sejam mais ambiciosos e respeitadores dos acordos climáticos internacionais assinados. Daí, a jovem tem sido incansável na mobilização de milhões de jovens de todo o mundo para a necessidade de lutar contra as alterações climáticas, e bem assim, pela humanidade. A activista teve mesmo direito a discursar nos palcos das maiores assembleias, como o Parlamento Europeu, o Fórum de Davos ou a Conferência da ONU sobre o Clima. Em todas elas não poupou nas críticas aos decisores políticos e à elite mundial, por “empurrarem com a barriga” os problemas ambientais, cujas medidas para os solucionar já há muito tempo deveriam estar no terreno. Por falarem tanto em futuro, mas pouco ou nada fazerem para o garantirem. Foi aí que a chama mobilizadora foi ascendida e se multiplicou de forma exponencial, convertendo-se hoje num movimento global. 
Contrariando o que muitas vezes se diz e se escreve injustamente acerca da consciência e actividade cívica dos jovens, a Greve Climática Estudantil demonstra bem a capacidade de afirmação dos jovens enquanto actores políticos e sociais, e em consequência, do seu necessário reconhecimento como agentes transformadores. Mais: são capazes de colocar na agenda política o debate e a reflexão sobre que modelo de sociedade sustentável queremos. 
Por cá, um grupo de cinco jovens conseguiu que governantes incluíssem na sua agenda uma reunião para debater um conjunto de problemas ambientais que se têm registado em Portugal. E assim aconteceu no dia 12, no ministério do Ambiente, três dias antes da manifestação. Matilde Alvim, Margarida Marques, Beatriz Barroso, Duarte Antão e Rita Vasconcelos, representantes do movimento nacional, foram recebidos pelo Ministro do Ambiente e pelos Secretários de Estado da Educação e da Energia. Nessa reunião os estudantes exortaram os governantes a tomarem medidas concretas para se acabar com a exploração dos combustíveis fósseis, a investirem nas energias renováveis e a encerrarem a central termoeléctrica de Sines. 
Na rua, na manifestação do dia 15, foram muitos os slogans que se fizeram ver e/ou ouvir, com recurso ao bom humor, ao sarcasmo ou à metáfora, e que ilustram bem a maturidade, a determinação e o conhecimento que os jovens têm acerca do estado do planeta. Destaco, a título ilustrativo, os seguintes: “Sejam capazes de ser adultos e agir para salvar o futuro que ainda pode ser salvo”, “Já não há tempo para esperar por nós, mas faremos o que é preciso”, “Não há planeta B, estamos aqui para salvar o mundo”, “Se o clima fosse um banco, já estaria salvo”. 
Não sei se a reboque da manifestação dos estudantes, ou quiçá da referida reunião que os seus representantes tiveram com o Ministro do Ambiente e Secretários de Estado, certo é que no passado dia 19 o governo arrancou com uma campanha a favor do meio ambiente. A abertura oficial deu-se na Escola Secundária de Loulé, na presença do Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Miguel Freitas, e o Secretário de Estado da Educação, João Costa. A iniciativa, que conta com o apoio do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, pretende promover uma série de debates por todo o país, para sensibilizar e informar os alunos sobre a importância da floresta. Na Secundária de Loulé, os governantes foram confrontados com várias interpelações, “sem filtros”, dos alunos, demonstrando que não estavam ali apenas para marcar presença. Uma delas partiu da convidada de honra Matilde Alvim, umas das estudantes recebidas no ministério do Ambiente, que num discurso mobilizador disse, de forma clara: “Temos de pôr as mãos na massa” e “Desenganem-se os que pensam que os jovens estão adormecidos”. 
Espero que nunca deixe de faltar o apoio da comunidade educativa aos jovens estudantes, em especial, por parte dos pais/encarregados de educação e professores. Estes, enquanto adultos, esperemos que saibam dar o exemplo de responsabilidade e de mobilização. Ao invés de críticas infelizes ou deformadas, fixadas apenas no acessório, que apoiem este activismo, este movimento inspirador dos jovens na defesa da humanidade, que apadrinhem este juízo de consciência sobre o futuro do planeta, independentemente de alguma inocência revelada, característica própria destas idades, mas que no entanto revela um certo arrojo e coragem, atributos que infelizmente falta a muitos adultos.