sábado, 24 de março de 2018

O que realmente interessa

Nos últimos quatro anos foram mais de trinta as exposições de pintura que levei a cabo um pouco por todo o norte de Portugal. Dessas andanças retiro várias aprendizagens, que me têm sido preciosas, na medida em que muito têm contribuído enriquecer os meus conhecimentos no plano geográfico, cultural, social e organizacional. Por isso, palmear vários concelhos, de vários distritos, levou-me a conhecer um pouco mais do nosso país e das nossas gentes.
Tenho por hábito, bem antes da abertura das exposições, de fazer algumas pesquisas na Internet sobre a terra que irá receber as minhas obras. Interessa-me particularmente conhecer o património concelhio, sob as suas mais variadas formas de manifestação. A gastronomia, claro, também entra no “cardápio”!
Chegado o dia da montagem da exposição, que por vezes coincide com o da inauguração, tento, na medida do possível, tomar contacto com um ou outro ponto de interesse que previamente estudei. Com ou sem guia, lá trato de visitar determinados monumentos e/ou espaços de interesse cultural. Mas é no convívio com as pessoas que me têm recebido, mais aquelas que travo conhecimento durante as inaugurações, que tenho obtido os maiores proventos.
Do contacto com os responsáveis pela cultura concelhia, que pode ir desde o presidente de câmara municipal, passando por vereadores, chefes de gabinete, directores de equipamentos culturais, até chegar a todos aqueles que, directa ou indirectamente, tratam da logística que envolve a preparação das exposições, tenho aprendido imenso com a entrega e o profissionalismo evidenciados. Neste âmbito, destaco a forma diligente e respeitosa como várias autarquias tratam os agentes culturais.
Poderia dar inúmeros exemplos de autarquias, vilas ou cidades, do interior ou litoral, que sabem acolher os artistas e que fazem questão de os envolver em todo o processo de preparação de uma exposição, desde os primeiros contactos até ao dia da inauguração, consultando-os e pondo-os ao corrente de cada passo. Falo de pessoas que canalizam as suas energias para proporcionar uma agenda cultural diversificada, que sirva os diferentes públicos, e que se concentram naquilo que realmente interessa, entenda-se, nas mais-valias que determinado artista e o seu trabalho poderá trazer à terra, e não em questões marginais, como por exemplo, saber se a pessoa que lhe dá corpo desperta a simpatia de fulano, sicrano ou beltrano.
Ficando-me apenas pelo interior, Macedo de Cavaleiros, Murça, Boticas ou Montalegre são bons exemplos de como a cultura é vista, não apenas como uma forma de potenciar a economia local, mas também de promover o seu património, e ainda, e não menos importante, zelar pelo enriquecimento cultural das populações.
Outra questão de enorme relevância prende-se com os espaços onde desenvolvem as actividades culturais, especialmente aqueles que se destinam a acolher exposições de artes plásticas. Sejam eles feitos de raiz ou então resultado de felizes reconstruções/adaptações, tenho conhecido galerias de uma qualidade notável. Falo de espaços amplos, bem localizados, bem equipados, acolhedores e com uma iluminação natural e/ou artificial que cumprem os requisitos necessários à exposição das obras de arte. Enfim, de fazer inveja!
Posto isto, não poderia estar mais de acordo com um texto publicado neste jornal, em Setembro de 2017 (nº 154), da autoria do bibliotecário da Biblioteca Municipal de Vila Pouca de Aguiar, o Dr. Paulo Gonçalves, a respeito do dinamismo, profissionalismo e dos investimentos nos domínios cultural e económico que vêm sendo feitos, desde há muito, pela autarquia de Montalegre. Como o autor enfatizava, um exemplo a seguir por outros concelhos do alto Tâmega. Vale a pena lê-lo.

domingo, 11 de março de 2018

Das minhas Sonoridades Cromáticas aos Deuses de Barro de Agustina Bessa-Luís


O dia 10 Março teve a particularidade de juntar, no mesmo espaço, a minha pintura e a literatura de Agustina Bessa-Luís. O acontecimento deu-se na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, em Amarante, durante a inauguração de mais uma exposição minha, numa terra que me é muito querida, dado eu ter vivido aí parte da minha infância e juventude.
“Sonoridades Cromáticas”, assim se chama a colecção de telas, acabou por servir, simultaneamente, como espécie de cenário e mote de partida para a apresentação de uma obra inédita da escritora, também ela com raízes nesta cidade do Tâmega, dado ter nascido na freguesia de Vila Meã. Por motivos de saúde a autora não pôde estar presente, ficando a apresentação a cargo da sua filha, Mónica Baldaque, que prefaciou o livro. Escrito por Agustina aos 19 anos, o romance, que dá pelo nome de “Deuses de Barro”, manteve-se desconhecido até à sua publicação no ano passado, mais concretamente, durante 76 anos. Foi graças ao trabalho de pesquisa e recolha da filha que o mesmo viu a luz do dia.
Na abertura da exposição, com casa cheia, fiz questão de sublinhar que foi para mim um enorme prazer e privilégio associar-me ao lançamento de uma obra literária de tão ilustre escritora, e por isso felicitei a Câmara Municipal de Amarante, representada pela sua Vice-Presidente, Lucinda Fonseca, e a Vereadora Rita Batista, pela feliz iniciativa de associar a pintura à literatura. Os elogios estenderam-se ao notável espaço onde estão instaladas as pinturas, bem como à organização primorosa da exposição. Seguiu-se a visita guiada por mim, na companhia dos elementos da vereação e de Mónica Baldaque, com quem o mantive uma longa conversa, e da qual obtive ainda um exemplar do romance de Agustina, com dedicatória. Por último, foi então feita a apresentação dos “Deuses de barro”, seguido do visionamento de um documentário televisivo sobre a vida da escritora.