sexta-feira, 24 de abril de 2009
















Pela Cordilheira do Atlas

Entre os dias 4 e 12 de Abril integrei uma equipa galega de alpinistas numa expedição a Marrocos, mais concretamente à cordilheira do Atlas, uma cadeia de montanhas situada a noroeste da África, que se estende por 2400 km através de Marrocos, Argélia e Tunísia, incluindo ainda Gibraltar. O programa traçado incluía a ascensão a quatro montanhas com uma altitude superior a quatro mil metros. Tal desiderato foi conseguido nos dias 8 e 9. No primeiro desses dois dias alcançamos o cume das montanhas Ras (4083m) e Timesguida (4089m). No segundo dia subimos ao Jbel Toubkal (4167m), o mais alto da cordilheira do Atlas e do norte de África, e o seu “parente”, o Toubkal-Oeste (4030m). As ascensões fizeram-se sem problemas e com um contributo valioso do tempo. No cimo do monte Jbel Toubkal fomos premiados com uma vista maravilhosa, em direcção a sul, sobre o deserto do Saara.
Muitas montanhas são consideradas locais sagrados. Por esta e outras razões, nos seus cumes são prestados tributos ou fazem-se votos sob as mais diversas formas às pessoas que nos são mais queridas, aquelas que mais amamos ou desejamos. No Jbel Toubkal fiz questão de prestar os meus.
Para além da beleza majestosa e envolvente daquele maciço, de texturas e contrastes ímpares, surpreendeu-me o encanto de alguns centros urbanos e das próprias gentes de Marrocos. Aqui destaco Marrakesh, conhecida por “cidade vermelha”, "pérola do sul" ou "porta do sul". Capital da região de Marrakesh-Tensift-El Haouz, possui o maior suq (mercado tradicional) do país, assim como uma das praças mais movimentadas da África, a Djemaa el Fna, que abriga acrobatas, dançarinos, músicos, encantadores de serpentes, barracas de comida, entre outros. A azáfama e o reboliço que aí encontrámos deram-nos a perceber quão variadas são as culturas que povoam o nosso planeta. Entrando pelo labiríntico mercado de Marrakesh pudemos observar e saborear toda a actividade cultural, laboral e mercantil que caracteriza este espaço cosmopolita. A diversidade de objectos, na sua grande maioria artesanais, de artesãos, de produtos agrícolas, a música tradicional que se ouvia a cada esquina, a circulação pedonal e motorizada caótica, e muito mais, encantou-me de tal maneira que fiquei boquiaberto.
Tanger, Rabat e Casablanca apresentam já alguns traços de clara influência ocidental, quer nas construções, quer nos comércios ou mesmo nas pessoas, na maneira como se vestem e se relacionam com os seus pares.
Mas voltando à montanha, aqui impõe-se fazer uma breve referência e algumas considerações acerca do povo que aí habita, cujas construções trepam pelas suas encostas, e onde toda a actividade laboral se desenvolve. Falo naturalmente dos Berberes. Vivem de uma agricultura rudimentar, mas de produção variada, de algum comércio de produtos essencialmente artesanais, tais como, a cerâmica, a bijuteria, a escultura em madeira e a tapeçaria, e ainda, claro está, do turismo. Os inúmeros visitantes que aí chegam, seja para fazer alpinismo, Ski, passeios pedestres ou simplesmente para visitar as aldeias típicas, contribuem grandemente para sustentar toda a actividade comercial e de serviços que aí se desenvolvem. Aqui destaco o transporte de bagagem (ou mesmo pessoas) feito por mulas desde de Imlil, pequena localidade situada a 1740 metros de altitude, até ao sopé da montanha, relativamente próximo dos refúgios de montanha que se encontram a cerca de 3200 metros de altitude. Trepando literalmente por um trilho sinuoso e acidentado do vale que nos leva à montanha, é velas transportar cargas que até metem dó, mas com uma passada segura e compassada. Impressionante! O percurso, de uma longitude de 11 quilómetros, demora cerca de cinco horas e meia a fazer-se. Tem a particularidade de passar pelas aldeias de Aroumd (1904m) e pelo santuário de Sidi Chamharouch (2310m).
As experiências e sensações aí vividas levam-me, inequivocamente, a considerar Marrocos um país recomendável a visitar.