segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Em busca da essência da beleza…


O belo e o feio existe. Não se trata apenas de uma questão de gosto ou de preferência. Não comungo, de forma alguma, com a expressão de que “gostos não se discutem”. Compreendo que para alguns seja difícil justificar os seus gostos, mas se gostamos de algo ou de alguém haverá necessariamente uma ou mais razões que fundamentem as nossas escolhas.
Numa singela mas objectiva análise, pretendo nas próximas linhas fundamentar o que me leva a alimentar duas paixões: a montanha e a mulher. Falo naturalmente de montanhas e mulheres belas!
Se é verdade que por vezes as aparências iludem, também não é menos verdade que a aparência revela a sua essência. Disso sou testemunha.
Quando olhamos para uma bela montanha ou para uma bela mulher, e se, claro está, tivermos os sentidos apurados, se tivermos sensibilidade estética, se nos sentirmos atraídos, logo somos impelidos a conhecer o seu íntimo, ou como dizia, a sua essência. É a sedução que, implícita ou explícita, acaba por nos arrebatar, podendo levar-nos a embarcar numa aventura. Naturalmente que não bastará sermos sensíveis à beleza das formas ou das pessoas. Para tal façanha, a do desejo de conhecer na intimidade qualquer um daqueles dois mundos misteriosos, necessitamos por um lado de audácia, sabedoria, compreensão e respeito, e por outro de muita paixão e alguma loucura.
Os padrões sociais ditam o que é normal ou anormal. O que é uma conduta correcta ou incorrecta. O que é aceitável ou inaceitável de acordo com os valores vigentes. Pois, confesso que muito do que aprendi, e tenho aprendido, consegui-o transgredindo alguns desses padrões, que, lembremos, e à semelhança dos gostos, são naturalmente discutíveis à luz de uma ou outra perspectiva. Algumas das aprendizagens que tenho logrado, têm na sua sequência um acto de transgressão ou de irreverência. Quem nunca sentiu desejo ou prazer em transgredir?
Não nego que já corri riscos nalgumas escaladas que empreendi. Já caminhei no fio da navalha. Já olhei nos olhos do precipício. Houve montanhas que tentei escalar e não consegui. Quem ama a montanha sabe que, por muito bom senso que nos guie, é difícil recuar perante um intento tão desejado, quando não há condições para prosseguir. O desejo de chegar ao cume, ao íntimo, à essência é de tal modo dominador que nos entristece quando não o conseguimos. E no entanto daqui retiramos lições. Tal como a mulher bela, a montanha só nos deixa chegar até onde ela quer.
Todavia, nunca me arrependi de tentar subir as montanhas, cujo topo não consegui alcançar. Porquê? Porque o percurso feito até ao nível a que cheguei proporcionou-me aprendizagens que me poderão ser úteis para voltar a tentar a mesma montanha, talvez recorrendo a outras estratégias ou então seguindo por outras vias. É uma loucura? Depende da perspectiva.
Podemos não conquistar a montanha ou a mulher que tanto desejamos, mas o facto de termos estado tão próximo do topo, do âmago, da volúpia, de ter sorvido parte da sua essência, de com ela termos aprendido e amadurecido pela fruição da sua beleza, são já razões suficientes para fazer-nos acreditar que valeu a pena o esforço. Valeu porque tivemos momentos felizes e que seguramente a memória registará para sempre. Logo, creio que não nos devemos arrepender de ter tentado alcançar o firmamento, de ter tentado tocar o rosto de um angelus. Resta-nos, humildemente, descer com a mesma nobreza com que subimos.

Há um provérbio (creio que chinês!) que diz que quanto mais alto subimos uma montanha, mais cansados ficamos, mas mais bela é a vista. É essa a vista que procuro fruir.