domingo, 29 de abril de 2018

A “linha de montagem” do Secundário ao Superior

Uma notícia editada no Diário de Notícias, no passado dia 19 de Abril, dava conta do crescente aumento da procura de consultas de apoio psicológico no ensino superior, por estudantes que revelam problemas de ansiedade, ataques de pânico, falta de apetite, dificuldades em dormir, entre outros. Na Universidade de Lisboa, por exemplo, os serviços de acção social revelam que as consultas de apoio psicológico são as que têm maior procura junto da comunidade académica, estando relacionadas com perturbações de ansiedade generalizada, perturbações de humor, nomeadamente depressões, problemas relacionais, familiares e dificuldades académicas que comprometem o sucesso
Nessa mesma notícia, Teresa Espassandim, membro da direcção da Ordem dos Psicólogos, considera que certos problemas, como o abandono e o insucesso académico no ensino superior, podem ser minimizados com a intervenção de psicólogos. No entanto, a oferta do apoio psicológico é claramente insuficiente para responder à procura. Aludindo a um estudo da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, feito em 2012, Teresa Espassandim recorda que 17,4% dos universitários têm sintomatologia depressiva clinicamente significativa e lembra que é entre os 18 e os 24 anos que se desenvolvem as psicopatologias graves. Chegados ao ensino superior, os jovens deparam-se com novos desafios, o que faz que este seja um momento que merece especial atenção do ponto de vista do apoio psicológico. "Vão viver sozinhos, por vezes não estão no curso desejado e não têm o êxito escolar que pretendiam. Isto pode desencadear uma ansiedade maior. Além disso, há casos em que existe consumo de álcool e drogas associado", alerta a referida psicóloga.
Entretanto, convém andar para trás e verificar o que se passa no ensino secundário e reflectir sobre as conexões que se poderão estabelecer com esse problema que ocorre no ensino superior.
Um estudo da Universidade do Minho (UM), publicado no livro “A excelência académica na escola pública portuguesa”, revela, como principal conclusão, que as escolas portuguesas premeiam e trabalham para a excelência dos alunos, formando estudantes que “sabem reproduzir fórmulas mas com pouca criatividade e raciocínio”. A coordenadora do estudo, Leonor Torres, refere que “há um fomento, também através da criação de leis, que premeia o mérito e desempenho académico dos estudantes, não valorizando a pluralidade de excelências como a arte, o desporto ou a solidariedade e as competências sociais e cívicas” (JN, 18/03/2018). Uma lacuna grave na educação e formação dos jovens. A corrida às melhores médias, e daí às melhores universidades, tem o “patrocínio” de pais e escolas. Os primeiros, para verem as suas ambições satisfeitas, entenda-se, de verem os seus filhos seguirem este ou aquele curso superior (nem sempre de acordo com as pretensões dos candidatos), as segundas, convertidas numa espécie de “agências” de certificação de méritos académicos, para se verem bem posicionadas nos malfadados rankings. 
Subscrevendo o que diz Leonor Torres, os alunos vivem para as notas. A investigadora sublinha que “os pais e os estudantes depositam grandes expectativas na escola, fomentam o negócio das explicações e, praticamente, anulam qualquer tipo de vida social e fomentam exclusivamente o mérito cognitivo”. 
Assim que os estudantes iniciam o secundário a pressão sobre os resultados académicos segue em crescendo. E porquê? Por causa, claro está, dos exames nacionais! Essa pressão sobre os jovens é relevada pelo coordenador do Plano Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, José Verdasca, que considera de completamente absurdo. Numa recente entrevista ao JN, a 1 de Abril, o professor universitário defende, tal como, aliás, a referida investigação da UM, que sejam as universidades a seleccionar os seus estudantes segundo pré-requisitos que não passem exclusivamente pelos exames e pelas notas, como aqueles que foram dados como exemplo no parágrafo anterior. No seu entender isto libertaria as escolas secundárias “da pressão e da lógica asfixiante orientada para os exames”.