quarta-feira, 24 de julho de 2013

Via Spartacus


Depois de há precisamente um ano atrás ter equipado e aberto, em solitário, uma via de escalada com 120 metros de recorrido, cotada em 6c+, no coração do Marão, que baptizei de Mirabilia Regnum (“Reino Maravilhoso”), voltei ao local para, uma vez mais, deitar mãos à obra e abrir uma nova via. Na verdade, trata-se de uma variante com 40 metros, que desemboca na via anterior, agora criando uma linha mais ou menos recta, que perfaz um total aproximado de 110 metros (7c+?/A1+). Também esta via, que baptizei de Spartacus, foi equipada e aberta em solitário. O passo mais duro fi-lo em artificial, tendo recorrido a estribos. E mesmo aqui a exigência física é muita! Ainda que nunca tenha feito uma via de nível 7c, a minha estimativa não deve estar longe da realidade, pois já consegui ir até 7ª+/7b. Não descarto a hipótese de poder ter uma cotação ligeiramente superior, mas não me parece!
Na imagem, a via aberta no ano passado está marcada a vermelho, e a que acaba de ser inaugurada, a branco.
Deixo aqui o link de acesso a um vídeo da abertura/escalada da via Spartacus, que eu próprio produzi: http://youtu.be/FHckD8r6hfM.
Para os escaladores interessados, a informação necessária sobre os seus acessos e a sua descrição encontra-se em: http://educator-mons.blogspot.pt/2012/08/mirabilia-regnum_6.html




domingo, 21 de julho de 2013

Ainda sobre escolhas… e o compromisso de “salvação do memorando”

Não imaginava que a recente crise política, criada no seio do governo, me fizesse voltar a tocar num tema que recentemente explorei num artigo, publicado no número anterior deste jornal. Recordo aqui que o iniciava da seguinte forma: “Será uma vulgaridade dizer que um qualquer órgão executivo deverá primar pela competência e pela seriedade. Logo, a primeira premissa a considerar deveria ser a ponderada escolha dos elementos para a sua formação”. Embora estendendo esta conclusão a qualquer tipo de executivo, confesso que o contexto que nessa altura tomei como referência foi aquele que melhor conheço, ou seja, o órgão de gestão de uma escola ou agrupamento de escolas. Inspirou-me particularmente um, cuja sua recente extinção foi um verdadeiro serviço público. Falo de um órgão de gestão ferido logo à nascença, precisamente pelo esvaído perfil dos elementos que o constituíram. Mais faziam lembrar algumas figuras de um infausto presépio, nomeadamente, o menino Jesus, a Maria e o burro! Ou então, e numa versão mais erudita, um conto resultante de uma mescla de Maquiavel, Kafka e Edgar Poe! Enfim, falo de uma brigada cujo desempenho foi de tal modo lastimoso, que seria penoso descrevê-lo aqui.
Voltando ao governo da república, na verdade, o espectáculo deplorável que temos vindo a assistir, iniciado com a demissão do Dr. Vítor Gaspar no início deste mês (que se despediu com uma carta, que mais não representou do que um atestado de incompetência passado ao actual governo… e a si próprio!), seguida da “irrevogável” demissão do Dr. Paulo Portas (apenas por uns escassos dias!), ilustra bem as consequências de uma má escolha dos elementos para a constituição de um executivo, a começar pelo seu líder. Como eu dissera no referido artigo, “falhar neste ponto é um passo decisivo em direcção à tortuosidade e ao mais que provável descontrolo da governação, com todas as consequências nefastas que daí possam advir”. E que temos nós vindo a assistir?!
Poderia elencar um conjunto de elementos do governo, a começar pelo primeiro-ministro, que ilustram bem alguns casos de impreparação, incompetência, oportunismo, irresponsabilidade ou desonestidade. Veja-se, a título de exemplo, um caso ainda fresco, passado como o ministro da educação, que depois de um acordo recentemente celebrado com os sindicatos de professores, acabou por publicar em Diário da República, no passado dia 10 de Julho, legislação que contraria algumas das medidas que tinham ficado definidas nas reuniões negociais. Ou seja, deu o dito pelo não dito! Que é isto senão um exemplo de desonestidade, para além de cretinice?
Em síntese, o “circo político” a que assistimos, para além de revelar uma falta de sentido de Estado e de compromisso para com os portugueses, ilustra bem uma determinada estirpe de políticos que nos governa, mais preocupados em gerir as cadeiras do poder, do que a tentar retirar o país do atoleiro em que se encontra!
Quanto ao Presidente da República, bom, deixou-me baralhado! Se há uns meses atrás escrevia a criticar o seu silêncio ensurdecedor ou a sua inacção perante o rumo preocupante que o país vinha (e vem) seguindo, agora, e com a sua intervenção nesta novela política protagonizada por actores de terceira categoria, numa tentativa de ressuscitar um “nado-morto”, reconheço que o melhor mesmo é voltar para o seu retiro. Querer que se crie aquilo que designou de “compromisso de salvação nacional”, excluindo logo à partida alguns dos partidos com assento parlamentar, que representam, no seu conjunto, centenas de milhares de portugueses, revela, desde logo, um défice democrático. Ao ignorar as fracturas entre o governo e o Partido Socialista, tentando vincular (ardilosamente) este, não ao dito compromisso, mas à salvação do memorando da troika, mais não vez do que prolongar a crise política. Como bem sintetiza Manuel Maria Carrilho, “O que de modo nenhum o Presidente da República podia fazer era chamar compromisso de salvação nacional a uma proposta de mera salvação de um memorando cuja execução nos trouxe aqui, pela mão do agora arrependido Vítor Gaspar. O que de modo nenhum o Presidente da República podia fazer era fixar um calendário eleitoral que, associado ao tal compromisso de salvação nacional, condicionaria a discussão e as opções do povo português aos limites de uma tutela degradante para a democracia.” (DN, 18/07/2013).
Como de certa forma já era espectável, as reuniões tripartidas entre PSD, CDS e o PS não deram em nada. A “grande alternativa” apresentada pelo Presidente da República foi a de, surpresa das surpresas, manter o actual governo em funções!
Acabámos por voltar ao ponto de partida: o problema da escolha irreflectida de protagonistas para a formação de um executivo e, consequentemente, de políticas!