quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Non, ou a Vã Glória de Mandar

Muitos se lembrarão deste título, dado a uma grande obra cinematográfica do nosso já falecido cineasta Manuel de Oliveira. O filme, estreado em 1990, retracta a história de Portugal, não pelas suas conquistas ou vitórias, mas sim pelo lado das derrotas e fracassos. Nada mais inspirador para lançar um olhar atento sobre o que tem sido a promoção da longa-metragem produzida e realizada pela coligação PSD/CDS, ao longo dos últimos quatro anos!
Embora mantendo uma necessidade obsessiva em evocar fantasmas do passado, mas sem revelar aos portugueses o que projecta para o futuro (pois não convém!), o governo e a maioria de direita que o apoia insistem em lembrar os sucessos da sua governação. Afinal o que festejam?
Depois de na campanha para as legislativas de 2011 Pedro Passos Coelho ter prometido que não aumentaria impostos, que não cortaria nas pensões, que jamais reduziria ordenados, que não acabaria com o 13º mês, etc., o que se verificou foi exactamente o contrário de tudo isto e muito mais. Ou seja, o enredo do filme foi, e ainda é, feito de jogos semânticos, mentiras descaradas e embustes. Avivemos a memória!
Assim que tomou conta do poder em Junho de 2011, a coligação PSD/CDS apressou-se a ir além da Troika, cuja vinda tanto desejou, forçou e exultou, pois encontrou no seu guião o ideário para a materialização do seu radicalismo ideológico.
O governo viu na crise uma oportunidade única e usou o sistema de Segurança Social não só para tentar reduzir o défice, como também para criar um conflito entre gerações, colocando pensionistas contra trabalhadores e jovens contra idosos, afrontando a Constituição... que jurou cumprir!
Os sacrifícios tiveram como resultado o desvanecimento da economia, a destruição de centenas de milhares de postos de trabalho, a extorsão de funcionários e pensionistas, o depauperamento dos apoios sociais, a debilitação do sistema de ensino e científico, o agravamento da pobreza, a criação de miséria encapotada, a emigração de cerca de meio milhão de portugueses, uma boa parte deles jovens altamente qualificados, debilitando assim, e ainda mais, a sustentabilidade da Segurança Social. A administração pública foi vergastada e empobrecida. O sistema de justiça tornou-se no caos que está à vista de todos. Na saúde, o garrote aplicado foi tal, que levou a mais desigualdade, mais doença por tratar, menor eficiência e maior vulnerabilidade a crises sazonais. A educação sofreu cortes brutais, mas tal não impediu que o governo, paladino da boa gestão, brindasse os colégios privados, já no final deste mandato, com mais 140 milhões de euros, à custa do subfinanciamento da escola pública. Aliás, isto vem na senda de um dos grandes desígnios do governo, que é a preparação do terreno para a privatização da escola pública.
O investimento praticamente cessou, o consumo interno reduziu drasticamente, o PIB regrediu e o défice aumentou. Sobre este, e na sequência do falhanço da venda do Novo Banco, não se trata de um efeito "meramente contabilístico", como disse a ministra das Finanças, nem de que "não tem nenhum efeito na vida das pessoas", como disse o Primeiro-Ministro. A mentira tem perna curta! As contas estão feitas: representará um factura de 490€ a cobrar a cada português!
Apesar da venda ao desbarato de quase toda a economia pública mais significativa (cimentos, EDP, CTT, ANA, REN, PT, Tanquilidade, TAP, etc.), o governo não evitou que a dívida disparasse de 109% para 130% do PIB. Valeu-nos os chumbos do Tribunal Constitucional, senão o cenário económico e social seria bem mais dramático do que aquele que se apresenta hoje. Quanto à dita reforma do Estado... ficou na gaveta!
a taxa de desemprego, bem maior do que aquela que herdou o governo de Passos e Portas em 2011, cifra-se nos 12,4%, segundo dados do INE. Contudo, este número não traduz a realidade do desemprego em Portugal, pois coloca de fora os chamados "desencorajados", os desempregados de longa duração, os falsos estagiários e os que emigram. Se todos entrassem justamente nas contas, a taxa de desemprego seria escandalosamente maior.
Agora pergunto: são estes factos, esta realidade amarga e indesmentível, fruto de quatro anos de austeridade aplicada a dobrar, que levam o governo e a maioria de direita a tanta euforia, tanto regozijo, tanta embriagues? Vã glória!
Depois de terem subido impostos, criado sobretaxas, cortado subsídios, reduzido apoios sociais, incentivado à emigração e empobrecido o país, a coligação PSD/CDS prepara-se, uma vez mais, para iludir os portugueses, apresentando-se com um guião eleitoral/cinematográfico cheio de omissões e novas (falsas) promessas, escondendo uma agenda para um o futuro do país que se traduz em mais do mesmo.
Estou curioso para saber se os portugueses estarão dispostos a patrocinar uma sequela deste thriller, protagonizado pela dupla de ilusionistas, Passos Coelho & Paulo Portas!



domingo, 6 de setembro de 2015

O Director de Turma: Um agente importante no processo educativo

Com o início do ano lectivo à porta recomeçam as preocupações de muitos pais e encarregados de educação. Começa logo pelas despesas que se avizinham, especialmente com manuais e materiais escolares. Juntam-se as apreensões por parte daqueles que verão os seus educandos ingressarem pela primeira vez na escola, isto no caso das crianças que entram para os jardins-de-infância, ou no caso dos mais crescidos, com a adaptação a uma nova escola e/ou turma ou a novos professores. O mesmo quanto a horários lectivos, a ocupação dos tempos livres, os transportes, a alimentação, etc. Enfim, refiro-me a um conjunto de inquietações legítimas, por parte dos encarregados de educação, que podem ser (e normalmente são) atenuadas pela intervenção do Director de Turma. Aqui incluo, naturalmente, o Educador de Infância, no caso do Pré-Escolar, e o professor Titular de Turma, no caso do 1º Ciclo do Ensino Básico.
O Director de Turma é, sem dúvida, um elemento importante e decisivo neste triângulo que liga alunos - professores/escola - encarregados de educação. Na minha opinião, dentro da escola este é o cargo com maior responsabilidade, uma vez que obriga o seu titular a estar em permanente contacto com colegas/professores, direcção da escola, alunos e, embora em menor grau, com outros elementos da comunidade educativa, sempre com a missão de procurar dar resposta a questões ou problemas que vão naturalmente surgindo ao longo do ano lectivo. Não é tarefa fácil. Por vezes é mesmo ingrata. No entanto, o trabalho do Director de Turma pode ver-se facilitado se entre os demais envolvidos no processo educativo, e que atrás fiz referência, houver uma plena consciência e assunção das suas obrigações e responsabilidades.
Cada um, em especial professores, encarregados de educação e alunos, devem desde cedo tomar consciência que o sucesso escolar dependerá, em boa parte, do empenho de cada um e da harmonia que for criada entre ambos. Do Director de Turma espera-se naturalmente imparcialidade e sentido de justiça na abordagem dos problemas que possam surgir no seio da turma. Nunca, em momento algum, deverá tomar parte de um dos lados, apenas por conveniência pessoal ou por receio de enfrentar outros elementos do dito triângulo… com ou sem manto protector.
Mais importante do que a letra morta que habitualmente preenche os regulamentos internos das escolas, ou de outros documentos afins (conhecidos apenas por quem os redige – não poucas vezes num exercício de “cópia e colagem” – e poucos mais), o que interessa destacar é a capacidade de diálogo do Director de Turma, e daí, a capacidade em gerar consensos entre os vários intervenientes no processo educativo, mobilizá-los e fazê-los ver e sentir que muitas das soluções para os problemas que assomam só serão possíveis através da convocação de diferentes sinergias, ou seja, através de uma acção concertada.