quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Peña Ubiña

Nos passados dias 28 e 29 de Dezembro estive, com o meu companheiro de montanha Carlos, no Parque Natural Ubiñas, situado no Principado das Astúrias (Espanha), na área central da Cordilheira Cantábrica. Trata-se de um terreno de montanha e vales dentro dos concelhos asturianos de Teverga, Quirós e Lena. A montanha caracteriza-se pelo maciço de Ubiña, com mais de 2.400m (Picos del Fontán e Peña Ubiña com 2.417m), e diferentes zonas com uma altura que ronda os 2.000m.
A nível da flora, todo o parque é uma zona de grande diversidade e em bom estado de conservação, com um terço da sua superfície ocupada por bosques de alto valor ecológico e de uma antiguidade apreciáveis, destacando-se a Faia. A nível da fauna, destaca-se a presença do urso pardo cantábrico, que já conta com uma considerável comunidade (cerca de 400 exemplares, de acordo com informação prestada por um aldeão local). Dentro do parque podem-se encontrar outras espécies, como o javali, o corso, o cervo, o veado e o rebeco (espécie de cabra montesa). Existe ainda uma grande variedade de carnívoros, tal como o lobo, a raposa, a marta, o gato-montês, entre muitos outros.

Deslocámo-nos a esse maravilhoso parque para ascender precisamente à Peña Ubiña. No primeiro dia ascendemos ao refúgio Veja de Meicín, situado a 1.500m de altitude, e aí pernoitámos. No dia seguinte, e depois de tomar o pequeno-almoço, iniciámos a ascensão da dita montanha. Levou-nos cerca de 3 horas até alcançar o cume. No verão, ou com outras condições de terreno, consegue-se o logro em cerca de 2h30, mas as condições que encontrámos, muito vento e sobretudo muito nevoeiro, dificultaram a empreitada. Posso dizer que tivemos alguma sorte para encontrarmos o cume, pois à medida que nos aproximávamos dele, o nevoeiro tornava-se cada vez mais cerrado. Infelizmente não conseguimos sacar as fotos que gostaríamos, diga-se, a toda a paisagem envolvente (que em dias de céu limpo permite contemplar o mar Atlântico), mas valeu pelo esforço e o treino conseguido. A descida foi bem mais rápida, pese embora os cuidados exigidos em terrenos nevados, e apesar do próprio desgaste acumulado.
Assim que regressámos ao refúgio, apenas tivemos tempo de recolher o material que aí tínhamos deixado, reorganizar as mochilas e voltar a baixar até ao parque de estacionamento da aldeia onde deixámos o carro, Tuiza de Arriba. Depois foi só metermo-nos à estrada e regressar a casa, uma viagem de cerca de 3h30… nas calmas!
Ficou o desejo de lá voltar, quer para novas actividades alpinas invernais, quer também para umas apetecíveis marchas de montanha em finais de Primavera e/ou durante o Verão, pois o local é digno de se visitar, pelas mais variadas razões.


Nota: A informação prestada nos primeiros parágrafos sobre as características do Parque Natural Ubiñas foi obtida na Wikipedia.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Dia de aniversário

Pois é, já lá vão três anos de existência! Foi precisamente no dia 19 de Novembro de 2007 que pari este blogue. No artigo de abertura apresentei as razões da sua criação. Hoje, este espaço mantém-se como um diário de montanha e de reflexão sobre algumas questões relacionadas com a educação, o ensino e a sociedade, mas também se foi abrindo paulatinamente a outros temas. Despretensiosas reflexões filosóficas e algum atrevimento no campo da prosa e/ou poesia passaram a integrar ou reforçar os meus interesses a nível da escrita. Para dar algum colorido e animação ao blogue, comecei igualmente a postar alguns vídeos sobre as minhas aventuras. Também, e como já se tornou hábito, a cada aniversário apresento um novo slideshow sobre a minha actividade de montanha.
Tenho mantido o compromisso de publicar pelo menos um texto por mês. Nem sempre é fácil, pois por uma questão de tempo, interesse, sentido de oportunidade ou ausência de actividades de montanha, vejo-me por vezes à nora quanto ao que hei-de escrever! Curiosamente, é precisamente nesses momentos de aperto que puxo pela imaginação e mergulho nos ensaios filosóficos ou naquilo que considero como escrita criativa. Aqui, as minhas paixões tornam-se semente que germina e cresce, percorrendo espaços ou lugares… por vezes proibidos!
Os resultados não me parecem maus! O leitor lá dará a sua opinião…

Certamente não verei a razão de ser de um blogue de uma forma diferente da generalidade dos seus autores ou visitantes. Quando publico algum artigo, raramente imagino o perfil dos visitantes, e muito menos o interesse que possam manifestar nele! Tirando os meus seguidores habituais, sei perfeitamente que a generalidade das consultas ao meu blogue resulta daquilo que a roleta dos motores de busca da Internet determina. Estou naturalmente a referir-me aos “pára-quedistas”! Em todo o caso, ainda que possa admitir que, por vezes, não passará de um monólogo, não deixa de ser um exercício que nos faz sentir estar presentes num espaço e num tempo.

Bom, resta-me terminar, dizendo que continuarei a fazer projectos e a tentar concretizá-los. A minha sina dita que continuarei a seguir os impulsos, os instintos e os desejos de novas experiências e aventuras. Seguirei escalando, arriscando, vivendo e amando. Quanto aos resultados, bem… irei revelando alguns deles!

domingo, 31 de outubro de 2010

Errante

Onde me levas?
Onde imaginas tu que me possas levar?
Não te atrevas, aviso-te!
Não há mordaça que me cale, nem trela que me prenda.
Sou parte de uma soma que desconheces.

Errante, sigo o caminho que palmilho.
Nele não há espaço para a tua razão.
Uma senda feita de emoções,
Que nascem e desaguam no limbo da racionalidade.

Não falo a linguagem dos homens.
O instinto tomou conta de mim.
Da serrania vêm os apelos da mãe.
É lá que a minha consciência desperta.
É lá que a verdade me coteja.
É lá que me desvendo.
É lá que existo.

Alienado sou pela tua beleza.
Tentado sou a possuir-te,
Numa busca incansável e desgarrada.
Não há coração que aguente.
Tamanha é a dimensão do teu ser.
Mas o espírito temerário, que meu corpo algema,
Denega as amarras que a tua vontade incauta,
Sobre mim teima em lançar.


Rui Duarte

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O valor de uma imagem

Confessara há uns tempos atrás que tinha assumido, para comigo mesmo, o compromisso de publicar um artigo por mês no meu blogue. Bem, este foi talvez o que me custou mais até à data, porque, além da sobrecarga de trabalho que me assolou nas últimas semanas, e que por isso me impediu de preparar um texto que despertasse minimamente algum interesse, e de neste momento me estar a aproximar da meia-noite do último dia deste mês (portanto, no final do prazo), comecei a entrar em pânico porque estava vazio de ideias! De repente lembrei-me daquele velho provérbio, que diz que “uma imagem vale mais do que mil palavras” (o que seria um mote para uma longa e disputável conversa!), e toca a procurar uma imagem que pudesse valer (bem) mais do que estas palavras que escrevo, e que viesse em meu socorro!
Logo na primeira das muitas pastas de imagens que tenho gravado no meu computador dei de caras com esta…


Para quê mais palavras!?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Espolón Pioneros

No passado dia 28 de Agosto estive algures, na província de León, para mais uma aventura na montanha. Desta vez passou-se na Peña del Pincuejo, uma parede rochosa vertical, situada num desfiladeiro, nas costas de uma pequena aldeia chamada Caldas de Luna. Aí escalei em solitário uma via de 110 metros, que dá pelo nome de Espolón Pioneros. Tendo em conta os cuidados exigidos numa escalada em solitário, o feito decorreu com normalidade, sem percalços, num cenário caracterizado por uma paisagem envolvente magnífica. Ao longo de cerca de três horas fui palmilhando cada centímetro quadrado da rocha, desfrutando ao máximo das várias e antagónicas sensações que uma escalada alpina suscita.

Quando cheguei ao local de escalada, já lá se encontravam alguns companheiros escaladores do Grupo Desportivo e Cultural de Vilarelho, que já iam bem lançados na mesma via! O tempo não estava para demoras, tendo, por isso, deitado mãos à obra, assim que me acerquei da dita parede.
O local é digno de passar lá uns dias tranquilos, em plena natureza, repartindo o tempo por algumas escaladas, marchas e (porque não?) um mergulho no rio que serpenteia por entre o referido desfiladeiro. Certamente que será um lugar que voltarei a visitar.
Para os interessados em ter uma ideia da minha aventura, segue abaixo o vídeo documental.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Aguja Bustamante

No passado dia 23 de Julho escalei em solitário a chamada “Aguja Bustamante”, situada no maciço central dos Picos de Europa, um santuário da natureza que para mim se tornou obrigatório visitar todos os anos.
Foram necessárias aproximadamente duas horas para escalar uma via de cerca de cinquenta metros. Para quem não estará por dentro do tema, uma escalada em solitário é feita, tal como o nome indica, por uma única pessoa, ou seja, sem o apoio de um colega para lhe fazer segurança. Ora, para além de algumas técnicas especiais, e de um sistema de auto-protecção, obviamente que a empresa exige cuidados redobrados, embora isso não signifique que os riscos aumentem consideravelmente. Na minha opinião, por vezes acaba por ser mais seguro escalar dessa forma, do que o fazer com um colega menos experiente, ou que tem tendência para distrair-se quando está a fazer a segurança daquele que vai a abrir caminho.
A escalada em solitário exige concentração, serenidade e um bom controlo da mente. Exige igualmente conhecimentos técnicos e uma prática regular. Sem dúvida que, quando bem sucedida, eleva os níveis de auto-confiança, para além das lições que se tiram, e que podem ser aproveitadas em outras actividades alpinas.
Obviamente que durante as minhas incursões pela montanha, depois de concretizados os meus projectos de escalada, aproveito sempre para conhecer mais uma aldeia, um percurso pedestre, o património histórico e cultural, a gastronomia regional, etc.
Continua-me a surpreender a forma como os nossos vizinhos espanhóis exploram os seus recursos naturais, neste caso as montanhas (com toda a sua fauna, flora, rios, etc.), de uma forma tão proveitosa! Muitos não imaginarão a quantidade de pessoas que visitam os Picos de Europa, seja na época invernal, seja na época estival, que fazem movimentar o comércio, a indústria e o turismo local, dando emprego a milhares de trabalhadores, com todos os resultados económicos que se poderão imaginar. Enfim, um exemplo a seguir para o nosso turismo de montanha!
Para os interessados em ter uma ideia da minha aventura, coloquei um vídeo no Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=n5KrWrzsUfI) , que dá conta, através de um breve resumo, da referida escalada.

domingo, 27 de junho de 2010

Cheiro a Férias!

Cada vez mais valorizo o tempo de férias. Talvez porque o trabalho e as pressões sobre um professor (…) têm vindo a aumentar nos últimos anos. Sem querer entrar em detalhes sobre a organização escolar, as medidas governativas tomadas, as reformas e contra-reformas educativas, sobre a própria evolução (!) do ensino e da educação, a verdade é que as férias são cada vez mais desejadas.
Longe vão os tempos em que colocava escola acima de tudo, ou quase tudo, aquilo que fazia. Como se diz na gíria, era o amor à camisola. Não que eu hoje tenha perdido de todo esse sentimento ou desígnio. Continuo indiscutivelmente orgulhoso de ser professor. Gosto do que faço, gosto do contacto com os alunos, das relações afectivas que se criam. Gosto de me relacionar com os colegas, fazer amizades, enfim, de conviver. Muito sinceramente, tenho dificuldades em imaginar-me a exercer outra profissão que não a de professor. Apesar de tudo, continuo a achar que vale a pena exercer tão nobre exercício profissional e, porque não (?), de filantropia.
Mas regressando ao tema das férias, o que mais me apraz, é saber que se avizinha um período em que vou deitar mãos à obra e tentar realizar projectos traçados com muita antecedência. Alguns deles há anos. Exceptuando a reserva de uns dias para a praia, mais outros tantos para o bricolage, como amante da montanha, naturalmente que se avizinham para mim escaladas muito desejadas.
Este ano voltarei aos Picos de Europa (lugar em que, até à data, ainda não falhei um único ano) e aos Alpes. Dado que nos últimos tempos tenho vindo a desenvolver e a melhorar as minhas técnicas de escalada em solitário, uma opção talvez mais filosófica do que desportiva ou técnica, quer num destino, quer noutro dos atrás referenciados, aguardam-me duas empresas que vão exigir de mim uma boa preparação física e, acima de tudo, uma boa preparação psicológica. Quanto à primeira não tenho nada a temer, pois é um exercício que mantenho regularmente. Quanto à segunda, para além das pesquisas que faço acerca das vias, itinerários, logística e condições de terreno, a preparação faz-se ao longo do próprio acto de escalar. A reflexão é permanente. Durante o treino de escalada, cada movimento é precedido de um questionamento, que resulta da dialéctica entre a opção tomada (ou a tomar) e as suas potenciais consequências. Muito do que fazemos na nossa vida está recheado destes exemplos.
Em síntese, e para terminar, o nosso dia-a-dia é feito, com a menor ou maior consciência, deste acto reflexivo de que falava, e que decorre da(s) nossa(s) prática(s). Pena é, e voltando ao ensino, que nem todos (quer professores, quer a sociedade civil em geral) têm a plena consciência de que o ser humano só evolui e só é capaz de se sentir plenamente integrado e exercer a sua plena cidadania, livre e democrática, se adoptar uma atitude crítica e reflexiva, bem como um olhar vigilante, face a todas os movimentos e transformações sociais, em particular sobre os que detêm o poder político. Esta deveria ser uma das prioridades das aprendizagens na escola.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

“Feriados”… tempos de aprendizagem

Já se poderá dizer que longe vão os tempos em que os alunos podiam aprender, ou se preferirmos, adquirir determinadas competências, nos tempos livres que resultavam das faltas de presença de determinados professores, mais conhecidos por “feriados”. Lembro-me bem como eram proveitosos esses momentos, quando fui aluno do ensino básico e secundário. Hoje, a escola desenvolveu um conjunto de mecanismos e medidas, ou por despacho ministerial, ou por iniciativa própria, para manter “aprisionadas” as crianças e jovens entre quatro paredes. Sem qualquer conhecimento empírico, é verdade, mas apenas por experiência, por aquilo que vou observando e pela troca de impressões que vou tendo com colegas de outras escolas, quer-me parecer que os resultados pretendidos com tais medidas ainda não surtiram os efeitos desejados. Por quem? Isso daria outra longa conversa! Adiante.
Se virmos bem, pelo menos nós, professores, a percentagem de “feriados” sempre foi irrisória, quando comparada com o quadro global de assiduidade dos professores. Por outro lado, existem professores que, não sendo os mais assíduos, conseguem proporcionar um maior número de aprendizagens que outros que o são. É uma questão de, primeiro, vocação, segundo, de organização e eficiência. Além disso, conhecemos, nós professores, as implicações e complicações inerentes a uma substituição de um colega faltoso: muitas vezes o professor substituinte não é professor da turma, da disciplina em questão, ou ambos os casos; outras vezes o professor que faltou não deixou ou não teve tempo de deixar um plano de aula; noutros casos, o professor substituinte nem sequer devia estar no ensino (!); noutros, o espaço de aula não se adequa à disciplina ou à aula a leccionar; e… não me lembro de mais nenhuma situação! Mas algo me diz que teria mais alguma a acrescentar! Mas o pior é a (pouca ou nenhuma) motivação dos alunos para frequentar uma aula que lhes retirou a possibilidade de desfrutar de momentos de prazer e, claro está, de aprendizagem não formal ou informal.
Não percamos tempo a cogitar sobre a forma como os alunos aproveitariam os ditos tempos livres. Eles sabem-no bem como fazê-lo! Simplesmente porque nós, quando éramos da idade deles, também o sabíamos. Não é preciso muita imaginação e criatividade para tal. Os próprios pais e encarregados de educação encarregam-se de tal nobre tarefa educativa.
Vamos ao que interessa. Então o tempo livre dos catraios e gandulos não pode ser aproveitado, de forma mais ou menos pedagógica, para, por exemplo (vejam só esta minha mente iluminada!), passear e apreciar os espaços escolares (espaços públicos e, por isso, passíveis de desenvolver acções e competências de cidadania) e partir daí, quem sabe (!), para a apresentação de propostas de embelezamento destes mesmos, tornando-os, quiçá, mais funcionais; fazer uma visita à biblioteca de livre e espontânea vontade e não obrigados; jogar, praticar desporto; frequentar clubes; dialogar com outros agentes educativos do espaço escolar; fazer novas amizades; namorar… sim, namorar, e tudo aquilo que este acto instintivo acarreta ou determina numa relação natural e necessária para dar resposta a necessidades afectivas e para o próprio equilíbrio emocional do aluno? Outras formas de ocupar os “feriados” poderiam ser aqui relatadas mas, para além de eu não ser obrigado a lembrar-me de tudo (!), importa-me explorar esta última, lembro: namorar.
Num momento em que a educação para a saúde, e em particular a educação sexual, entraram, em termos formais, nas escolas, as crianças e jovens necessitam indiscutivelmente de um espaço e de uma ocasião para desenvolver as suas relações afectivas e amorosas, imprescindíveis ao desenvolvimento interpessoal e para o próprio processo de sociabilização. Alguém terá consciência dos males que provocam ao limitar o conjunto de aprendizagens inerentes a este acto humano? Muitos alunos encontram na escola o único espaço e período em que podem estabelecer relações de amizade e de afecto com o próximo, e assim procurarem dar resposta a necessidades vitais. Deixemo-nos de hipocrisias e sejamos conscientes e racionais, quando tomamos decisões que podem influir, positiva ou negativamente, no crescimento, maturação e comportamento dos alunos.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Torre del Friero

Nos dias 3, 4 e 5 do mês de Abril estive no Maciço Central dos Picos de Europa (Espanha), para subir ao cume da célebre Torre del Friero (2455 m). A ascensão fez-se pelo chamado Corredor Norte Central (o maior da Península Ibérica), ao longo de um percurso de 1100 metros, através daquilo que em alpinismo se designa de escalada mista (gelo e rocha). A subida deste corredor corresponde igualmente a uma das mais longas escaladas invernais da Europa. Fi-la juntamente com o meu companheiro de montanha, Carlos Filipe. Contámos ainda com a presença de outro confrade, Rui Crespo, nosso repórter, que nos prestou uma preciosa ajuda logística, dando-nos apoio a partir do campo base, instalado na Veja de Asotín, a 1400 metros de altitude.
As condições de terreno que encontrámos não foram as ideais para uma escalada invernal, pois uma boa parte do percurso foi feita em neve mole, que por vezes chegava à cintura. A temperatura mínima que se fazia sentir, de apenas -3ºC, foi uma das principais causas desta situação. Só a partir de metade do percurso é que fomos encontrando, de forma avulsa, algumas placas de gelo, facto que, apesar da maior exigência técnica, permite uma escalada mais expedita. Foi, sem dúvida, uma escalada muito cansativa e desgastante. No entanto, e chegados ao cume, pudemos desfrutar daquilo que mais maravilha um alpinista: uma paisagem deslumbrante e de cortar a respiração. A descida foi igualmente fatigante pois, ao contrário do que muitos poderão pensar, em montanha nem sempre “os santos ajudam”! Empreendemo-la por um percurso diferente da recomendada. Apenas resultou em mais cerca de uma hora de caminhada. Fi-lo por pura intuição, e porque também tivera feito, no dia anterior, um pequeno reconhecimento de parte de um itinerário alternativo, que se veio a revelar perfeitamente aceitável.
Para não me perder em narrativas infrutíferas ou supérfluas acerca da aventura brevemente aqui exposta, pois de modo algum poderiam descrever com maior expressão aquilo que os nossos olhos saborearam, preparei um vídeo sobre a mesma, que pode ser visto nesta página.

Até uma próxima aventura…
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Nota de Rodapé: Caros leitores, conforme prometido, aproveito este espaço para tecer umas breves considerações acerca do artigo anterior, datado de 30 de Março. Para ser mais preciso, lembro que com um simples título, mas bastante sugestivo, dado a esse mesmo, pretendia meditar (diga-se, uma tarefa árdua!) acerca da razão ou razões das visitas feitas ao meu blogue. Na verdade, tratava-se de um teste ao visitante. O primeiro facto a registar (que coincide com o único!) é que o referido título, “SEXO”, suscitou um número de visitas acima da média a que estou habituado, num período que durou duas semanas. Eu próprio contribuí para as estatísticas… mas atenção, só com uma consulta! A partir desta “amostra”, está visto que a generalidade das pessoas só pensam em sexo… o que é perfeitamente legítimo. Faz parte da natureza e das necessidades do ser humano. Se fosse algo tão desagradável, provavelmente nem se falava nele. Despeço-me com um conselho muito original: pratiquem sexo e tenham bom proveito, mas atenção aos excessos!

terça-feira, 30 de março de 2010

SEXO


Lamento desapontar os meus leitores, pois apesar de sugestivo, não me vou debruçar sobre o tema para o qual o título aponta! Pretendo tão-somente fazer um teste recomendado por um amigo. Dizia-me este, um dia, que se quisermos ver subir o número de visitas/leitura de um texto por nós publicado, há que surgir com um título bastante sugestivo ou um tema que é muito caro ao mais comum dos mortais. E aqui está: SEXO! Quem é que não fala ou, pelo menos, pensa nele diariamente? Nos próximos dias irei confirmá-lo através do contador de visitas deste Blog.
Na verdade, verei se a maioria das consultas feitas na Internet têm como principal propósito a pesquisa de temas ou questões que possam ser úteis para enriquecer ou elevar o conhecimento de quem as efectua, ou simplesmente para satisfazer curiosidades (legítimas) mais mórbidas ou lascivas.
Não pretendo, de modo algum, traçar um perfil do cibernauta português (uma vez que estes são claramente a maioria dos meus visitantes), e muito menos fazer generalizações abusivas, sem qualquer suporte científico.
Provavelmente no próximo artigo (se não me esquecer!) registarei, quiçá numa nota de rodapé, uma breve conclusão acerca dos resultados desta minha iniciativa. Todavia, temo não contribuir com algo de novo para a ciência... talvez mais pela eventual incapacidade de explicá-los, do que pela sua pertinência!

Até lá…

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Uma Educação Visual para o entendimento da Cultura Visual

Conceitos como os de Sociedade da Comunicação, Sociedade da Informação, Sociedade do Conhecimento, Sociedade Tecnológica ou Sociedade da Imagem, são, por vezes, utilizados e/ou associados ao mundo das imagens em que as sociedades ditas mais desenvolvidas estão imersas. Este universo de imagens, também designado de iconosfera, resume-se àquilo que alguns autores apelidam de Cultura Visual. Num sentido lato, os objectos da cultura visual vão desde os produtos artísticos ou artefactos (que podem ser encontrados em diferentes espaços), até àqueles que são permanentemente veiculados pelos media, e que podem ou não constituir objectos artísticos. Para Fernando Hernández (2002: 114), a cultura visual constitui um universo de significados, e “está relacionado com os factos visuais nos quais a informação, o significado ou o prazer é registado pelo consumidor num artefacto com a tecnologia visual”.
O desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação, e com ele a torrente de imagens que chega à grande maioria dos cidadãos de forma aleatória e desordenada, acabaria por ter consequências na transformação das sociedades, num mundo que se diz globalizado.
A avalanche de imagens que nos chega, sobretudo através dos media, condiciona a nossa compreensão e as nossas escolhas. O volume, a sucessão e confusão de imagens, bem como a velocidade a que são transmitidas, baralham-nos, confundem-nos, levando-nos, às vezes, a tomar as opções menos acertadas, pelo simples facto de termos tomado decisões de forma irreflectida. No entender de Eduarda Coquet (2002: 180), “somos consumidores compulsivos de imagens, procurámo-las por toda a parte, e quantas mais vemos, mais queremos ver. Quanto mais diversificadas, mais diferentes, mais sofisticadas, mais apelativas elas são, mais nos deixamos manipular por elas”. Face a este fenómeno, “a criança não é capaz – nem a pessoa adulta – de diferenciar e canalizar devidamente, e de acordo com os seus interesses, toda a informação”, pois frequentemente, “a quantidade transforma-se em ruído” (Miralles, 2002: 32).
A televisão é, sem dúvida, o meio audiovisual que resume o maior universo de imagens veiculadas a todo o momento. Isabel Marcelino (2000: 45) acredita que “a proliferação de imagens atrofia a nossa imaginação e conduz a um certo estado de desorientação, e mesmo de esquizofrenia”. Pois, segundo a autora, as imagens televisivas acabam por ocupar o espaço destinado àquelas que cada um de nós tem para criar, uma vez que somos seres dotados de imaginação e capacidade de criação. Mais preocupante se torna quando nos apercebemos que a informação imagética que prolifera e domina os órgãos de comunicação social, reproduz, como defendem Sérgio Grácio e Emília Nadal (2001: 43), “apenas aspectos da realidade e manipula imagens fabricadas pelas próprias tecnologias, esbatendo as fronteiras entre o real e o virtual, o verdadeiro e o falso”. É este esbater ou confundir de fronteiras que torna preocupante a forma como a cultura e a comunicação visual são assimiladas pelos cidadãos, merecendo, por isso, uma reflexão cuidada e profunda, e um repensar do papel da escola e da educação.
São várias as estratégias utilizadas na cultura visual ou, para sermos mais precisos, pela cultura visual, para aliciar, seduzir e convencer os cidadãos. Todo o investimento feito na promoção e divulgação de um determinado produto tem por detrás, e na maior parte das vezes, profissionais que sabem como convencer o público a adquiri-lo. O produto é envolto de uma espécie de magia que encanta o sujeito pela imagem e envolvência projectadas. Esta cultura visual, profusamente difundida pela comunicação social, e em particular pela comunicação visual, circunda e atinge os mais incautos, os menos preparados para compreender este caudal de imagens. Queremos naturalmente frisar que o que está aqui em causa são os aspectos negativos que resultam de uma incompreensão e incapacidade de avaliação séria e objectiva dos efeitos negativos de uma cultura visual, que, se por um lado sobrevaloriza os valores estéticos, por outro transfigura as identidades culturais.
Esta visão crítica da cultura visual, e de certa forma das sociedades pós-modernas, manifesta uma preocupação com o rumo que a construção social e a construção de identidades têm seguido. Se é verdade que o império de imagens tem fomentado a designada “estetização” (Cf. Melo, 2002: 62-63) ou cultura esteticista, também não é menos verdade que tais fenómenos não são sinónimos ou promotores de maior competência estética por parte do cidadão. Pelo contrário, Dmitry Leontiev, em reflexões feitas acerca do público que consome os diferentes géneros de arte, afirma que a grande parte daquele se situa num nível inferior de competência estética. No seu entender, “a indústria da cultura de massas contribui grandemente para a manutenção deste nível dentro das massas, produzindo obras de arte que exigem apenas um nível muito primitivo de competência” (Leontiev, 2000: 133). O autor chama a estas obras de arte de «quase-arte». Em vez de despoletar uma análise crítica, questionadora ou reflexiva no sujeito – e assim ser capaz de exercer efeitos na sua personalidade –, a «quase-arte» limita-se, no entender daquele autor, a agradar ou a chocar as emoções pessoais. Verificamos, portanto, uma sobreposição do emocional sobre o racional.
Tomando em linha de conta as reflexões de Isabel Calado (1994), através de uma alfabetização visual dos alunos poderemos dotá-los de competências que lhes permitam mover-se no mundo que os envolve, manifestando um comportamento consciente e interveniente. São pedagogias activas, adaptadas a cada contexto, que se exigem para que efectivamente levemos a cabo uma educação visual que proporcione aquela ou outra alfabetização visual; que permita aos alunos a compreensão e domínio de uma gramática e linguagem visuais, enfim, que os dote de competências de leitura desse universo que até ao momento temos ventilado.
Entretanto, reconheçamos que a aprendizagem e o exercício das linguagens artísticas, ou simplesmente visuais, requerem o conhecimento de técnicas e gramáticas específicas que permitam quer a livre expressão do sujeito, quer o desenvolvimento da sua imaginação, da sua criatividade, e a aquisição de competências que lhes sejam preciosas para o seu dia-a-dia. A gramática da imagem deve, de uma vez por todas, e hoje mais do que nunca, ser colocada ao nível de destaque que outros campos do saber desfrutam. O próprio professor deve fazer por dominar minimamente essa gramática, pois, caso contrário, correrá o risco de “não ser capaz de usar uma linguagem com que os seus alunos mais se defrontam no espaço exterior à escola – o da vida” (Calado, 1994: 50).
A nosso ver, a educação visual não pode, nem deve, tal como na origem do conceito, limitar-se à simples análise ou reprodução dos elementos formais ou estéticos que compõem as formas, ignorando uma realidade polifórmica que nos envolve. Perante o universo visual existente, para o qual confluem produções artísticas, mediáticas ou outras de natureza imagética, uma educação visual deverá ter como uma das prioridades o estudo da cultura visual, nos diferentes contextos sociais e culturais em que ela se desenvolve. Importa compreender de que forma o público, em especial os mais jovens, assimila essa cultura visual presente em jogos de vídeo, na televisão, na Internet, filmes ou em outros suportes; que impacto tem no comportamento, nas representações ou na construção da identidade desses jovens. Numa sociedade que frequentemente se designa de informação, o professor de Educação Visual tem por missão desenvolver nos alunos as capacidades necessárias para que ele possa, de forma autónoma, interagir com o envolvimento cultural e icónico que o circunda.
A Educação Visual não pode ignorar a cultura visual, nem a influência que esta exerce na construção de identidades – uma construção, sabemos, que se faz tendo em conta as influências de entornos socioculturais e dos significados que o sujeito deles extrai. Significados esses que se podem retirar da arte ou dos artefactos da cultura visual, e que de certa forma traduzem modos de pensar, de comunicar e, até mesmo, de produção científica. São, por isso, essenciais à compreensão das sociedades e da cultura geral. Como destaca Fernando Hernández (2003: 47), “devemos assumir a cultura visual como um campo de estudo, um objectivo para a compreensão crítica do papel e das suas funções sociais, bem como das relações de poder às quais se vincula”. O desenvolvimento da percepção visual faz-se, então, pelo estudo de duas componentes que interagem: as qualidades estéticas do objecto ou imagem e o seu enquadramento histórico, social, cultural ou político
A defesa de um ensino da leitura analítica da imagem, o fomento de uma atitude crítica e questionadora do sujeito fazem-nos repensar o papel da escola e das medidas e práticas pedagógicas que nela deverão ser tomadas. Uma das prioridades estará certamente em começar por aproximar as crianças e jovens do mundo da arte e da imagem para que se tornem espectadores e interlocutores activos e conscientes. Logo, o professor tem como desafio proporcionar as condições e meios necessários para que os alunos desenvolvam um comportamento que tenha em consideração a análise cultural, o juízo moral e a reflexão que as imagens tendem a ocultar. A educação visual deve, por isso, ir para além dos seus domínios estritamente expressivo e artístico, abarcar os que são próprios da imagem e da cultura visual.

BIBLIOGRAFIA

CALADO, Isabel (1994). A utilização educativa das imagens. Porto: Porto Editora.

COQUET, Eduarda (2002). “A ilustração tridimensional (as imagens que querem fugir dos livros)”. In Leitura, Literatura Infantil e Ilustração. Braga: Centro de Estudos da Criança/Universidade do Minho, pp.174-182.
GRÁCIO, Sérgio & NADAL, Emília (2001). “Modos diferenciados de aprender e saberes do futuro”. In Carneiro, Roberto (Coord.). O futuro da educação em Portugal: tendências e oportunidades. Um estudo de reflexão prospectiva. Tomo III. Lisboa: Ministério da Educação, pp. 40-114.
HERNÁNDEZ, Fernando (2002). “Repensar el papel del arte en la educación desde una cultura llena de imágenes”. In Huerta, Ricardo (Ed.). Los valores del arte en la enseñanza. Valencia: Universitat de Valencia, pp. 113-117.
HERNÁNDEZ, Fernando (2003). “Educación y cultura visual: repensar la educación de las artes visuales”. In Vários. Figuras, formas, colores: propuestas para trabajar la educación plástica y visual. Barcelona: Editorial Graó, pp. 45-50.
LEONTIEV, Dmitry (2000). “Funções da Arte e da Educação Estética”. In Fróis, João Pedro (Coord.). Educação Estética e Artística: abordagens transdisciplinares. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 127-145.
MARCELINO, Mª Isabel (2000). Da palavra à imagem. Porto: Edições Asa.
MELO, Alexandre (2002). Globalização Cultural. Lisboa: Quimera.
MIRALLES, Sebastiã (2002). “Arte y educación hoy, carrera hacia una libertad condicionada”. In Huerta, Ricardo (Ed.). Los valores del arte en la enseñanza. Valencia: Universitat de Valencia, pp. 27-32.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma aventura em Gredos

Nos passados dias 8, 9 e 10 do presente mês estive, juntamente com cinco amigos espanhóis (Rafa, Fernando, Carlos, Jesus e Paco), na Serra de Gredos (Espanha), para mais uma actividade alpina. Inicialmente, o que estava planeado era a ascensão, pelo corredor norte, do Pico Almanzor (2592 m), o maior deste maciço montanhoso, situado no Sistema Central. No entanto, as piores previsões meteorológicas confirmaram-se: temperaturas a rondarem os 15 graus negativos (isso ao menos!), ventos fortes e neve a chegar ao nível da cintura.
A partida a pé fez-se no sábado, dia 9, logo ao amanhecer, desde o parque onde ficou estacionado o automóvel até ao refúgio de montanha Elola (a 2000 m de altitude), onde nos alojaríamos nesse fim-de-semana. A marcha durou-nos cerca de 3 horas. Até aí tudo bem. Uma vez chegados ao refúgio, ainda da parte da manhã, fomos informados de que a ascensão do Almanzor, prevista para domingo, era praticamente impossível, dada a elevada cota de neve verificada e o risco de avalanches. Para não darmos o tempo por perdido, e aproveitando o facto de termos dispendido dinheiro, tempo e um elevado esforço para ali chegarmos, decidimos nesse mesmo dia, e para a parte da tarde, escalar algumas das muitas cascatas de gelo que por ali proliferam. E assim aconteceu. Pese embora as dificuldades em chegar a elas, devido às difíceis condições de terreno, lá conseguimos queimar algumas calorias. Combinámos regressar às mesmas no dia seguinte. No entanto, logo pela manhã de domingo, e durante o pequeno-almoço no refúgio, fomos informados de que as condições meteorológicas iriam agravar-se ainda mais, o que levou o guarda do refúgio a anunciar o encerramento do mesmo, para evitar o seu isolamento e dos seus utentes. Tal situação levou-nos, com alguma frustração mas sem a menor hesitação, a decidir baixar da montanha e meter-nos à estrada, para regressar a casa nesse mesmo dia.
Apesar da alteração de planos, o balanço foi positivo, pois sabemos que até com os erros se aprende. Mas quem conhece o verdadeiro espírito do alpinista, sabe que a aventura, o risco e a ousadia são intrínsecos à sua personalidade e comportamento, levando-o por vezes a desafiar a natureza, com todas as consequências que daí possam advir!
O desejo de regressar o mais brevemente possível a Gredos, para desfrutar daquele santuário de neve e gelo, ficou-nos nas ganas.
Mais aventuras nos esperam! Até lá!!!