terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Temperaturas elevadas

As previsões para 2022 vão manter-se. Continuaremos com temperaturas elevadas, dando assim continuidade a um já longo período cálido. 

Poderia recuar até ao primeiro governo de António Costa, ao de Passos Coelho e Paulo Portas, ou ainda mais atrás, ao de Sócrates. Mas não vou tão longe, fico-me por 2019, pelo segundo governo do ainda primeiro-ministro. Primeiro deu-se a retirada do Bloco de Esquerda em 2020, depois a do PCP nos finais de 2021. E assim, a meio da legislatura, perderam-se as bases de apoio que sustentavam o governo socialista. Não vou dissertar acerca dos responsáveis sobre a sua queda, com o chumbo do Orçamento de Estado para 2022, pois muito já se disse e se escreveu sobre o tema. Cada qual fará o seu juízo, havendo certamente algo ainda por apurar em matéria de culpas e responsabilidades.
Sendo certo que ao longo do Portugal democrático, que já leva quase cinco décadas, sempre existiram lutas e tensões entre esquerda e direita, os últimos anos marcam um acentuar da polarização entre ambos os campos partidários. Dirão alguns que é a sede de poder. Talvez! Dirão outros que são os extremos que se acentuam e que perturbam a “harmonia” do centro. Outros ainda advogam que se deverá à embriaguez nalguns sectores políticos e económicos, provocada pelos milhões dos fundos europeus que estão a caminho. Sejam lá quais forem as razões, perspectiva-se que o mercúrio continuará bem acima das temperaturas amenas.
Passando às eleições que estão à porta, os debates entre candidatos serviram essencialmente de palco para se dirigirem aos seus eleitorados. Vimos e ouvimos muita demagogia, populismo, arruaça, promessas irrealistas, etc. Não quero com isto dizer que os debates foram desinteressantes. De modo algum. Houve momentos esclarecedores, candidatos (poucos) que revelaram dominar vários dossiês, que desenvolveram um discurso coerente, sustentado, com elevação, sérios e intelectualmente honestos. Vimos ideias inovadoras e exequíveis. Para mim perdeu quem enveredou pela demagogia, mentira ou soberba.
No que concerne a programas eleitorais, há para todos os gostos. Vão desde calhamaços (quem os lerá!?) até um número de páginas inferiores a muitos prefácios de várias obras literárias. Com ideias diferentes para o país, uns são mais (neo)liberais, outros mais conservadores, outros mais ou menos progressistas, outros ecológicos, e ainda mais um com “mãozinha de reaça” (como lembra o “Fado de Alcoentre”, de Fernando Tordo), cheio de dislates, vacuidades e que está permanentemente em reformulação, conforme as conveniências ou circunstâncias. Entre o realista, o ideológico ou o distópico, o eleitor tem bem por onde escolher.
Quanto a sondagens, apenas dizer que se assemelham a um equalizador. Os partidos andam num sobe e desce. Esperemos pela sondagem certeira, a do dia 30 de Janeiro.
Mas a questão premente é saber como se irá compor o xadrez pós-eleitoral. Perspectiva-se uma fragmentação partidária na designada “casa do povo”, com partidos a ganhar deputados e outros a perdê-los. Seguramente assistiremos à migração de votos entre partidos, em parte devido ao apelo ao “voto útil” por parte de PS e PSD. Veremos se tudo acabará por redundar num berbicacho, tal como alertou Marcelo Rebelo de Sousa. Atentaremos aos arranjos parlamentares que se farão e com que condições de governabilidade. Veremos ainda qual o peso da pandemia na taxa de abstenção, que de eleição para eleição tem vindo preocupante e lamentavelmente a aumentar.
Como disse, e independentemente dos resultados eleitorais, as temperaturas vão manter-se elevadas!
Já agora, não se esqueçam de votar.