sábado, 27 de maio de 2017

Uma opinião que conta


Há cerca de duas semanas, mais precisamente no dia 16 de Maio, numa passagem por Lisboa, o director de Departamento de Educação e Competências da OCDE, Andreas Schleicher, apontava Portugal como um exemplo a seguir, a respeito da consulta pública feita pelo Ministério da Educação (ME) junto de alunos de vários níveis de ensino, em Novembro passado, em Leiria, sobre o novo perfil de competências à saída da escolaridade obrigatória e da flexibilização curricular em preparação. No âmbito do programa Educação 2030 daquela organização, Lisboa serviu, pois, de palco para o lançamento internacional desta iniciativa do ME, que o próprio intitulara de “A voz dos alunos”. O referido programa tem como objectivo, precisamente, conceber novos currículos escolares, por forma a responder a um mundo em permanente mudança e à aquisição de competências tidas como imprescindíveis na formação dos cidadãos do século XXI. Nessa sessão de apresentação voltaram a estar presentes alguns dos alunos que em Leiria fizeram várias propostas ao ministro da Educação, assim como outros de vários países, para debater a mudança dos currículos e da própria escola.
O que importa, então, aqui destacar? Começaria exactamente por uma das observações de Andreas Schleicher, que nos refere o seguinte: “Se os sistemas educativos conseguirem levar em conta as ideias e capacidades dos seus alunos e professores, tal poderá ajudar na construção de uma melhor educação. Por isso o que Portugal está a fazer neste campo é realmente importante” (Público, 16/05/2017).
Por vezes tendemos a menosprezar a opinião dos alunos. Certo é que eles são capazes de nos surpreender com algumas das suas ideias ou propostas. Quem sabe devido à forma pragmática como analisam determinados temas, questões ou contextos. Apesar dos muitos anos de docência que registo, não deixo de ser colhido, ocasionalmente, por tiradas de alguns dos meus alunos, das mais variadas idades. Daquelas que às vezes nos deixam perplexos e nos faz meditar: “Que raio, olha que o dito cujo até tem razão!” Mas alguém que conheça por dentro o sistema de ensino, em particular os professores, poderá subvalorizar uma opinião que conta? Atrever-se-á a considerar desenquadradas ou destemperadas algumas sugestões feitas por alunos, como aquelas que tiveram lugar na referida consulta, em Leiria, que teve como anfitrião o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues? Transcrevo algumas delas, que de certo modo dão conta de uma análise, nada ingénua, que esses jovens portugueses fazem da escola: “mais aulas práticas, mais debates, mais trabalhos de grupo, mais visitas de estudo, possibilidade de no secundário poderem escolher disciplinas em vez de áreas compartimentadas, mais arte, mais cidadania, maior ligação à prática, mais espírito crítico, turmas mais pequenas, professores motivados e que não desistam dos alunos” (Público, 16/05/2017). 
Apesar de louvável a iniciativa do ME em consultar os alunos, ao ponto de ser elogiada e tida como referência pela OCDE, na realidade esta não é caso único. Na Finlândia, uma iniciativa do género está em curso. Foi estabelecido um compromisso com os alunos, para auscultá-los na definição dos currículos.
Em síntese, trata-se de construir uma escola voltada para o futuro, rompendo com conceitos e práticas pedagógicas que são característicos de uma escola do século XIX. Tenhamos presente que os alunos de hoje são diferentes de os de há 15, 20, 30 ou 40 anos atrás. Nem melhores, nem piores. Simplesmente diferentes. E não venham com essa frase feita, tantas vezes pronunciada de forma imponderada, ao estilo vox populi, de que “no meu tempo ou há alguns anos atrás é que eles eram bons!”.
Termino com um apanhado de algumas das observações de Andreas Schleicher, na referida apresentação do programa Educação 2030, que traduzem bem o espírito que deverá presidir na construção de uma escola para o século XXI: “Os professores e as escolas do futuro têm de olhar para fora e colaborar com os outros docentes e com outras escolas (…); o futuro precisa de integração e de ligação com o mundo real” (…); passa por “personalizar as experiências educativas de modo a reforçar a motivação e os talentos dos alunos” (Público, 16/05/2017).