domingo, 27 de junho de 2010

Cheiro a Férias!

Cada vez mais valorizo o tempo de férias. Talvez porque o trabalho e as pressões sobre um professor (…) têm vindo a aumentar nos últimos anos. Sem querer entrar em detalhes sobre a organização escolar, as medidas governativas tomadas, as reformas e contra-reformas educativas, sobre a própria evolução (!) do ensino e da educação, a verdade é que as férias são cada vez mais desejadas.
Longe vão os tempos em que colocava escola acima de tudo, ou quase tudo, aquilo que fazia. Como se diz na gíria, era o amor à camisola. Não que eu hoje tenha perdido de todo esse sentimento ou desígnio. Continuo indiscutivelmente orgulhoso de ser professor. Gosto do que faço, gosto do contacto com os alunos, das relações afectivas que se criam. Gosto de me relacionar com os colegas, fazer amizades, enfim, de conviver. Muito sinceramente, tenho dificuldades em imaginar-me a exercer outra profissão que não a de professor. Apesar de tudo, continuo a achar que vale a pena exercer tão nobre exercício profissional e, porque não (?), de filantropia.
Mas regressando ao tema das férias, o que mais me apraz, é saber que se avizinha um período em que vou deitar mãos à obra e tentar realizar projectos traçados com muita antecedência. Alguns deles há anos. Exceptuando a reserva de uns dias para a praia, mais outros tantos para o bricolage, como amante da montanha, naturalmente que se avizinham para mim escaladas muito desejadas.
Este ano voltarei aos Picos de Europa (lugar em que, até à data, ainda não falhei um único ano) e aos Alpes. Dado que nos últimos tempos tenho vindo a desenvolver e a melhorar as minhas técnicas de escalada em solitário, uma opção talvez mais filosófica do que desportiva ou técnica, quer num destino, quer noutro dos atrás referenciados, aguardam-me duas empresas que vão exigir de mim uma boa preparação física e, acima de tudo, uma boa preparação psicológica. Quanto à primeira não tenho nada a temer, pois é um exercício que mantenho regularmente. Quanto à segunda, para além das pesquisas que faço acerca das vias, itinerários, logística e condições de terreno, a preparação faz-se ao longo do próprio acto de escalar. A reflexão é permanente. Durante o treino de escalada, cada movimento é precedido de um questionamento, que resulta da dialéctica entre a opção tomada (ou a tomar) e as suas potenciais consequências. Muito do que fazemos na nossa vida está recheado destes exemplos.
Em síntese, e para terminar, o nosso dia-a-dia é feito, com a menor ou maior consciência, deste acto reflexivo de que falava, e que decorre da(s) nossa(s) prática(s). Pena é, e voltando ao ensino, que nem todos (quer professores, quer a sociedade civil em geral) têm a plena consciência de que o ser humano só evolui e só é capaz de se sentir plenamente integrado e exercer a sua plena cidadania, livre e democrática, se adoptar uma atitude crítica e reflexiva, bem como um olhar vigilante, face a todas os movimentos e transformações sociais, em particular sobre os que detêm o poder político. Esta deveria ser uma das prioridades das aprendizagens na escola.