sábado, 27 de junho de 2009

Educação Ambiental

Raro é o dia em que não sejamos confrontados com notícias, sobretudo pela televisão, que dão conta de problemas ecológicos ou ambientais. A destruição de florestas (e com elas habitats e respectivas espécies), a poluição do ar, da água e dos solos, a degradação da camada do ozono, o aquecimento global do planeta, o degelo de glaciares, a exploração desenfreada dos recursos naturais, são alguns exemplos de uma lista infindável de problemas ambientais que assolam o nosso planeta. Os atentados de que o meio ambiente tem vindo a padecer colocam em causa a existência do próprio ser humano. O modelo económico dominante tem, de certa forma, contribuído para o agravamento desta situação.
A degradação do meio ambiente, que não reconhece fronteiras, tem levantado inúmeras preocupações às populações de diferentes culturas e países. Sendo legítimas, estas preocupações suscitam-nos apreensão e incertezas quanto ao futuro do planeta. Uma consensualidade parece emergir em torno da necessidade de procurar novos valores e uma nova ética que orientem as relações sociais, a favor de um melhor ambiente e de uma natureza mais protegida. Caberá naturalmente à educação um papel basilar em todo este processo.
Actualmente, as preocupações e o discurso em torno das questões ambientais continuam naturalmente presentes. O desenvolvimento das sociedades actuais tem levado a uma degradação crescente e generalizada do meio ambiente, bem como à escassez dos recursos naturais. O crescente consumo energético e o desequilíbrio ambiental do planeta, associados ao desenvolvimento da economia global, têm suscitado muita apreensão na sociedade em geral e um sentimento generalizado da premência em tomar medidas que ponham um travão a estes problemas. Este sentimento reforça-se através da informação constante que recebemos pela mão dos media, que nos dão conta da gravidade do estado do ambiente e da inexistência de medidas mais urgentes. Os cidadãos começam a tomar consciência da complexidade das soluções necessárias.
Na verdade, a actualidade política e económica suscita algumas visões pessimistas acerca do problema, que não deixam, entretanto, de ser realistas. Para Eurico Figueiredo (2000: 10), “quando os desafios ambientais exigiam ponderação, controlo, regras, punição das infracções, a humanidade vive, sem lei nem roque, o maior descontrolo dos processos de intercâmbio económico que, potencializados pelas novas tecnologias da comunicação, atingiram níveis sem precedentes”. O autor apresenta algumas razões que justificam, no seu entender, esta conjuntura.[1]
Apesar da emergência de uma consciência ecológica global, tem-se assistido a uma “crescente degradação da qualidade ambiental e dos valores humanos culturais e patrimoniais, à escala mundial […]” (Morgado; Pinho & Leão, 2000: 9). No entanto, tal como temos vindo a acentuar, assiste-se a um interesse generalizado pelas questões ligadas ao ambiente, verificando-se um número crescente de pessoas que aderem a esta causa. O aparecimento de grupos ecologistas e de protecção do meio ambiente surge, precisamente, na sequência de uma opinião pública mais sensibilizada e mais vigilante perante os problemas de ordem ecológica e ambiental. Espera-se e deseja-se que este facto e estas manifestações se traduzam num compromisso do cidadão para com o património natural. Tal como sublinha Roberto Carneiro (1997: 405): “O cidadão do futuro é necessariamente um militante da causa da preservação do seu meio ambiente e um guardião dos bens da natureza em nome das gerações vindouras”.
Contudo, apesar das inquietações anteriormente referidas, as sociedades democráticas contemporâneas continuam a revelar uma apatia por parte dos seus cidadãos, que vão dando indícios de uma falta de predisposição para intervirem na res publica. A dita consciência ecológica não tem sido, pelo que atesta a realidade, suficiente para convocar governos, empresas e opinião pública para a causa ambiental. O alcance de um consenso alargado sobre este tema só será possível “à custa de uma ampla mudança de mentalidades e de um inequívoco incremento da capacidade de cada cidadão de se comprometer com a coisa pública (ambiente incluído)” (Nogueira, 2000: 12). O combate a esta apatia do cidadão encontrará certamente na educação ambiental o instrumento mais que necessário para pôr em prática um processo conducente à mudança de mentalidades, valores e atitudes.
De uma educação ambiental espera-se o desenvolvimento de uma consciencialização profunda das camadas mais jovens às mais adultas, e de uma sensibilização dos diferentes sectores da organização social. Trata-se de promover uma responsabilidade conjunta, partilhada e assumida, no sentido de levar cada cidadão, numa acção cívica, a defender os valores de um património natural, através da participação activa e interessada.
Entretanto, consideramos oportuno fazer uma breve abordagem à evolução do conceito de Educação Ambiental, na dialéctica que envolve a humanidade e a natureza.
Inicialmente, as teorizações em torno do conceito davam relevo a uma perspectiva conservacionista e ecológica, que apostava particularmente na resolução e prevenção dos problemas causados pelo impacto da acção humana nos sistemas biofísicos. Esta concepção de educação ambiental encontra as suas origens nos países desenvolvidos, num período em que se procura dar resposta aos impactos provocados pelo progresso moderno, nomeadamente: a poluição (do ar, da água e dos solos), o perigo de extinção de espécies (animais e vegetais) e o risco de esgotamento dos recursos naturais.
Nos últimos anos, temos assistido a uma nova abordagem do conceito, apoiada mais numa visão holística. A educação ambiental passou a ser vista como via privilegiada para a promoção de novos valores, de novas condutas sociais, tendo como princípio orientador a ética nas relações sociais. Com origem na América Latina, esta perspectiva assume uma posição socio-crítica, sustentada num conhecimento complexo e integrado da realidade, que congrega o ser humano e as suas problemáticas de vida. Debruça-se sobre os modelos de desenvolvimento, as suas bases culturais, o comportamento dos mercados e os diversos sectores envolvidos.
Numa primeira ilação, podemos concluir que, independentemente dos conceitos ou perspectivas geradas em torno da educação ambiental, o importante é que juntemos os esforços necessários para encontrar as bases de uma educação que promova um desenvolvimento humano integral; uma educação que caminhe na procura de um sentido e de um significado para a existência humana, que se joga no triângulo dialéctico homem – natureza – sociedade.
O adiamento de medidas com vista à resolução ou redução dos problemas ambientais, com os quais nos confrontamos, poderá ter consequências nefastas ou irreversíveis, podendo toda a humanidade vir a ser responsabilizada pelas gerações vindouras e pagar um alto preço por uma atitude passiva e conivente. Todas as instituições sociais têm, por isso

“o dever de contribuir, à medida das suas atribuições, para a formação dessa mesma sociedade, mas acredita-se que a escola é, ainda, o espaço educativo por excelência para uma boa parte da população, as suas camadas infantis e juvenis e, por efeito de cadeia, embora parcelarmente, a própria comunidade adulta que medeia a escola e os alunos” (Máximo-Esteves, 1998: 25).

A escola terá um papel importante no desenvolvimento de uma consciência ecológica, pela via de uma educação ambiental. Deverá, por isso, proporcionar os meios necessários à implementação de projectos pedagógicos de intervenção a nível escolar ou comunitário, que envolva os alunos em múltiplas actividades práticas, a partir das quais eles possam sentir, no terreno, o valor de um trabalho de sensibilização e de acção cívica subordinado à temática do ambiente, dando início a um processo de reflexão crítica das relações do homem com a natureza e com os seus iguais. Logo, a educação ambiental deve contribuir para que o cidadão se envolva na problemática da sua qualidade de vida, seja a do presente ou do futuro, para que ela lhe seja garantida, bem como às das gerações que hão-de vir. Deve, assim, ser orientada para a busca de soluções para problemas concretos do ambiente e, consequentemente, da própria humanidade. Mas isto, claro está, se incorporarmos este saber fundamental: sem definição de objectivos claros e de um plano de equipa, “a educação ambiental converte-se em anedota e tem uma escassa capacidade para modificar a realidade” (Díaz, 1995: 97-98).

[1] Eurico Figueiredo sublinha a perda de legitimidade democrática, por parte do Estado, na tomada de decisões, para instituições internacionais, tais como o FMI, Banco Mundial, GATT ou Banco Europeu. No seu entender: “O mundo é governado, disfarçadamente, por uma tecno-burocracia financeira, o que se traduz numa grave crise de legitimidade democrática do estado”. Mais adiante acrescenta que uma das consequências da globalização neoliberal se traduz no seguinte: “as repercussões ambientais, no actual contexto de crescimento sem controlo, são sobretudo externadas, o que se traduz numa nova e mais grave fonte de quebra de legitimidade dos governos nacionais”. Cf. Figueiredo (2000: 10).


BIBLIOGRAFIA

CARNEIRO, Roberto (1997). “Educação para a cidadania e cidades educadoras”. In Brotéria, 144, pp. 397-398.
DÍAZ, Alberto (1995). La Educación Ambiental como proyecto. Barcelona: Universitat de Barcelona / Editorial Horsoi.
FIGUEIREDO, Eurico (2000). Prefácio. In Nogueira, Vítor. Introdução ao Pensamento Ecológico. Lisboa: Plátano, pp. 9-10.
MÁXIMO-ESTEVES, Lídia (1998). Da Teoria à Prática: Educação Ambiental com as Crianças Pequenas ou o Fio da História. Porto: Porto Editora.
MORGADO, Fernando; PINHO, Rosa & LEÃO, Fernando (2000). Para um ensino interdisciplinar e experimental da educação ambiental. Lisboa: Plátano.
NOGUEIRA, Vítor (2000). Introdução ao Pensamento Ecológico. Lisboa: Plátano.