quarta-feira, 17 de abril de 2013

Oposição de esquerda

No passado dia 10 de Abril, na estreia de um espaço semanal de opinião na TVI24, Manuela Ferreira Leite, essa arrojada figura de esquerda, considerou o chumbo do Tribunal Constitucional (TC) a algumas das medidas do Orçamento de Estado para 2013, como a saída da sorte grande ao Governo. A ex-líder do PSD e antiga ministra das Finanças, queria, com isto, dizer que esse facto constituía uma boa oportunidade para a dupla Passos & Gaspar mudar de rumo. No entanto, Ferreira Leite, logo reconheceu que se equivocara, e que o governo estava firme e determinado na prossecução das suas políticas de austeridade, apesar dos indicadores negativos registados nas diversas frentes da sua actividade governativa.
Ferreira Leite acusou o Governo de entrar num jogo (inconsequente) de dramatização e teatralização sobre as decisões do Tribunal Constitucional, admitindo que os cortes anunciados por aquele “não vão ser cumpridos, nem são exequíveis”, e que o país está a entrar “numa fase de privação, abaixo da pobreza, em que as pessoas já não se conseguem alimentar”. De certa forma, Ferreira Leite condena a política de terra queimada que está a ser levada a cabo, quando sublinha que “não se consegue refazer um país a partir das cinzas”. A militante social-democrata, no seguimento da sua crítica cerrada ao Executivo, evoca a matriz ideológica do seu partido, para lembrar que este “sempre colocou em primeiro lugar o primado da pessoa”. Sem pôr em causa a sua fé e a sua seriedade, parece-me que Manuela Ferreira Leite está um pouco deslocada no tempo, ou então anda distraída, pois há muito que o seu partido mudou de paradigma!
De entre outras ilustres figuras de esquerda que se têm entretido a zurzir no Governo, uns com maior contundência do que outros, como Marques Mendes, Morais Sarmento, António Capucho, Marcelo Rebelo de Sousa ou Pires de Lima, Pacheco Pereira tem claramente liderado o pelotão, mantendo a camisola amarela ao fim de várias etapas do “Giro” português. No passado dia 9, no programa Quadratura do Círculo, da SIC Notícias, Pacheco Pereira afirmou que o Governo “entrou numa guerra institucional dentro do Estado, em colaboração com a troika, para abrir caminho a políticas de duvidosa legalidade e legitimidade baseadas no relatório que fez em conjunto com o FMI”. O mesmo estende-se nos seus comentários, ao pedir a demissão do governo, por entender que não conhece “nenhum motivo mais forte e justificado para a dissolução da Assembleia da República por parte do Presidente do que este acto revanchista contra os portugueses”. Na verdade, Passos Coelho, após o chumbo do TC, cedo se apressou a bramir e a ameaçar com medidas alternativas para colmatar o “buraco” de cerca de 1,300 milhões de euros, resultante da decisão daquele órgão supervisor. Logo reuniu com a sua equipa ministerial e, de facas e cutelos afiados, começaram agendar o esquartejamento que se espera nas áreas da segurança social, saúde e educação.
A propósito de troika, nas reuniões do Eurogrupo e Ecofin ocorridas entre os dias 11 e 13 deste mês, em Dublin, na Irlanda, uma vez mais podemos constatar o servilismo deplorável que o nosso ministro das Finanças continua a manifestar perante os nossos credores. Perdeu uma boa oportunidade para se juntar aos seus colegas irlandeses, que aproveitaram a “boleia” de um ex-responsável do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ashoka Mody, que criticara a receita da austeridade. Vítor Gaspar não tardou a ser alvo de uma crítica sarcástica por parte de jornalistas irlandeses, ao ser apelidado de “ministro da troika”, por não defender os interesses de Portugal, mas, sim, as do triunvirato. O caso aconteceu num noticiário do canal irlandês RTE, no qual dois jornalistas revelaram a sua estupefacção pelo facto do nosso ministro da Finanças não criticar a austeridade, mas, sim, defender as suas virtudes! Só que desta vez, de nada lhe valeu andar de bandeja na mão e sorriso de orelha a orelha, no costumeiro comportamento bajulador, pois não granjeou qualquer elogio pelas medidas governativas que tem tomado e que defende de forma dogmática!