segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O maior dos
desideratos

Mais uma época natalícia que termina, e com ela mais um período de consumismo desenfreado, que se junta a mais um débito alargado de votos de um bom ano novo. Passada esta temporada tudo volta ao normal. Os gestos de solidariedade esvaem-se e cada um segue o seu ritmo de vida, com maiores ou menores constrangimentos. O que fica? Todos os valores, ou pelo menos uma boa parte deles, passam para segundo plano. Cada um regressa à sua rotina, tentando viver conforme sabe ou pode.
Que lugar toma o amor no meio disto tudo? Que proveito retiramos das nossas relações com os demais, sobretudo das pessoas que nos são mais próximas? O que queremos de nós e dos outros? Mais fácil de perguntar do que responder, certamente! Creio ser imperioso começar por procurar respostas para sossegar os nossos ímpetos, de modo a pacificar a nossa alma e assim encontrar um equilíbrio emocional. Nem sempre conseguimos o que desejamos, mas neste efémero caminho que representa a nossa vida necessitamos de usufruir de momentos que nos realizem, que nos encham de alegria e que nos permitam pequenas, mas sólidas conquistas. É assim que concebo a vida, passo a passo, tentando realizar-me com o proveito que recolho de cada experiência e com ela recriar o meu mundo. E assim vamos construindo a nossa sabedoria, um património de conhecimentos e valores.
E sobre sabedoria, Nietzsche dizia que ela “quer-nos corajosos, despreocupados, trocistas, imperiosos; ela é mulher e apenas sabe amar um guerreiro” (Nietzsche, s/d: 39). A meu ver, corajosos, porque a vida é feita de riscos, conflitos e barreiras, que desafiam e põem à prova as nossas capacidades. Despreocupados, no sentido de não nos deixarmos prender demasiado com questões ou situações laterais, menores, mantendo, entretanto, um distanciamento atento e consciente daquilo ou daqueles que apenas não se identificam com o nosso conceito de felicidade. Trocistas, porque a vida também nos exige, por vezes, ousadia, atrevimento e algum sarcasmo, para nos libertarmos, por exemplo, da forma desdenhosa como alguns nos olham. Imperiosos, porque necessitamos de determinação, persistência e domínio, para tentar conquistar os nossos desideratos. E qual o maior de todos senão o do amor? De que vale, ou qual o significado de uma vida sem afectos, carinho, paixão… lá está, de amor? Nenhum.
O amor necessita de asas para voar e planar sobre o mar dos desejos, em busca do deleite. Para tal, precisamos de uma consciência despida de preconceitos, da liberdade que nos permita tirar partido dos momentos que nos dão prazer e nos realizam. Necessitamos de nos libertar das amarras interiores e exteriores que nos enclausuram. A nossa liberdade dependerá igualmente da liberdade dos outros. Só assim o amor poderá resultar em comunhão.


BIBLIOGRIA:

NIETZCHE, Friedrich (s/). Assim falava Zaratustra. Colecção Grandes Génios da Literatura Universal. Amadora: Educlube.