quarta-feira, 30 de julho de 2008

Discursos em torno da Educação Artística


Muitos têm sido os discursos em torno da educação artística, sendo a tónica colocada no destaque que ela deveria merecer no sistema de ensino formal. No entanto, a realidade tem mostrado que a mesma tem sido votada ao ostracismo. No sistema de ensino português, a redução da carga horária ou a passagem à condição de opção a que as disciplinas de ensino artístico têm estado sujeitas são apenas dois exemplos que demonstram o menosprezo manifestado pelos nossos sucessivos governos.
Apesar do crescente trabalho de investigação produzido em arte-educação, do trabalho pedagógico desenvolvido pelos serviços educativos de museus e fundações, das iniciativas promovidas por associações culturais e recreativas e do incremento de acções de divulgação das artes e cultura, frequentemente veiculadas pelos media, continuamos a assistir a uma sociedade que dá preferência às novas tecnologias, em especial às da informação e comunicação. Bastará lembrar os discursos do nosso primeiro-ministro! Que se poderá esperar de governantes, de elencos executivos cujas as formações académicas são, regra geral, em direito, gestão, engenharia ou economia? Onde pulula a formação ou sensibilidade artística, estética ou cultural desses senhores? Mas o busílis não se encontra apenas neste facto.
Quer os políticos que nos governam, quer a própria sociedade portuguesa está imbuída de uma mentalidade e de uma cultura que desconsidera o valor das artes. Onde tal não acontece, assistimos, sim, a sociedades desenvolvidas, cultas e auspiciosas. Os exemplos são muitos. Em países do centro e norte da Europa verifica-se um verdadeiro investimento no ensino artístico e na educação artística, porque aí cedo perceberam que a arte desenvolve competências imprescindíveis à formação integral do sujeito, e daí para a sua emancipação nos planos social, cultural, científico, tecnológico ou económico, ingredientes indispensáveis ao progresso dos estados. Só em terras lusas é que esta clarividência parece estar eclipsada. Os resultados estão aí à vista de todos…
Não me vou debruçar sobre as mais-valias da aposta numa educação artística. Considero que os discursos sobre tal questão estão combalidos. Compreendo a preocupação daqueles que pretendem levar bem alto esta bandeira, mas façamos um balanço sobre os resultados. Qual foi o nosso logro até ao momento? Isto não significa, de modo algum, que estou resignado ou que devemos simplesmente deixar as águas seguirem o seu livre curso.
Embora partilhe das mesmas preocupações, de alguns dos fundamentos e até de certas iniciativas, julgo que o caminho a tomar, e não sendo nada de original ou de novo, passa pela sensibilização das nossas crianças e jovens para a importância das artes. Enquanto professor de disciplinas artísticas, quer no ensino básico ou na formação inicial e contínua de professores, tenho tido como principal preocupação fazer com que os meus alunos vivam o verdadeiro sentido da arte, que criem e que fruam a arte. Sinceramente, pouco ou nada espero dos políticos. Acredito, sim, nas gerações que se estão a formar. Acredito num trabalho que faça da arte e do ensino artístico um veículo de educação estética e cultural, mas também de educação para a cidadania.