sábado, 30 de abril de 2016

Alpinismo na Peña Ubiña


No fim-de-semana prolongado de 23 a 25 de Abril eu e o meu camarada Bruno Teixeira deslocámo-nos à província das Astúrias, mais concretamente ao Parque Natural de Las Ubiñas - La Mesa, situado na área central da Cordilheira Cantábrica, para aí nos dedicarmos a umas actividades alpinas. É um dos meus locais de eleição para a prática do alpinismo invernal, não só pela sua relativa proximidade, mas também pela diversidade de desafios que coloca.
Apesar de uma mudança no plano traçado, dadas as condições meteorológicas e de terreno menos boas, acabámos por nos atirar a dois cumes, a saber: a Peña Cerreos (2104m) e o Pico del Canalón Oscuro (2142m). Apesar da relativa baixa altitude, o desafio de escalá-las foi considerável, uma vez que os optámos por vias com um grau de dificuldade respeitável, por ocorrerem em terreno misto (neve, gelo e rocha), e com inclinações que variavam entre os 45° e os 90°.
Para o Bruno tratou-se da sua primeira actividade de alpinismo propriamente dito, e ainda por cima invernal! Mas o rapaz portou-se bem, o que não me surpreendeu, dada a sua garra e determinação… que muito aprecio num alpinista, e nas pessoas em geral!
O cume da primeira das duas montanhas foi alcançado no dia 24, depois de três horas de labuta, um desnível a ultrapassar os 500 metros e muito nevoeiro à mistura. O cimo da segunda montanha foi alcançado no dia 25, uma forma original de comemorar o Dia da Liberdade! Na realidade, e embora numa despretensiosa analogia, também esta montanha, tal como a liberdade em Portugal, custou muito a ser conquistada. Apesar de um dia aberto e cheio de sol, havia muita neve acumulada, alguma resultante de aluimentos recentes, o que dificultou a progressão no terreno, por vezes feita com neve acima dos joelhos. A parte final, próximo do cume, fez-se por uma aresta muito exposta, de rocha muito precária, e por isso pouco fiável. Para se ter uma pequena ideia do que foi a escalada desta segunda montanha, basta ira à página dos vídeos deste blogue.
Na tentativa de fazer uma terceira montanha, o pico Pico Lapalazana, logo ao lado do Canalón Oscuro, experimentámos, involuntariamente, um longo deslize por uma ladeira gelada e bastante inclinada! Primeiro fui eu, com uma descida/queda de cerca de 130m, seguido do Bruno, no espaço de nem 4 minutos. Só que este bateu o meu “recorde” em mais 20 ou 30m! Felizmente que, para além de umas esfoladelas, não houve danos maiores. Sorte a nossa de que o terreno acabava numa espécie de “bacia”, pois se no final da rampa tivéssemos à nossa espera um precipício, se calhar não estaria aqui a escrever este texto!
Subestimámos o terreno e o baixo grau de dificuldade, pelo que não nos encordámos. Além disso, e no meu caso, não levava correia do pulso no piolet, pelo que à primeira tentativa de cravá-lo, quando resvalei, logo me saltou fora da mão. Regressados ao ponto de donde tínhamos caído, e depois da lição aprendida (!), entendemos o sucedido como um aviso, pelo que decidimos adiar a subida a esta montanha! 

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Resquícios de um provincianismo no seio da escola


Uma simples e breve altercação com uma colega minha, a Guilhermina (nome fictício), despertou-me para a meia dúzia de parágrafos que se seguem. Logo, não poderia deixar de começar por agradecer-lhe a gentileza que teve, ao fornecer-me matéria preciosa para este artigo.
Ora aconteceu que, nesse debate, a minha prezada colega referira-se à Educação Tecnológica como sendo uma disciplina “secundária”, usando de uma argumentação que, pela sua vacuidade, não merece sequer que transcreva uma única letra neste espaço de redacção. É verdade que vindo de quem veio, não me surpreendeu absolutamente nada. Aliás, desse espectro já estou habituado a tão frutífera e civilizada prosa!
Mas este não é caso único. Infelizmente ainda há professores de diferentes níveis de ensino, e de outras disciplinas, que não as de expressão/ensino artístico (Educação Visual, Educação Musical, Educação Tecnológica e Dança), que olham de forma sobranceira para estas, assim como para os espaços não formais de criação, como os ateliês ou oficinas. É uma realidade sentida, um conceito mais ou menos presente, conforme o momento ou circunstância. Vêem as disciplinas de expressão, tal como a de Educação Física, como um adorno curricular, um centro de recursos para várias actividades do Plano Anual de Actividades da escola (PAA), projectadas pelos seus próprios departamentos curriculares. Uma espécie de muleta que dá jeito, às vezes para proveitos próprios.  
Muitas situações têm contribuído para este status quo. Começo logo por alguns governantes, sendo o caso mais gritante, o ex-ministro da Educação, Nuno Crato, que nos falava em “disciplinas fundamentais”, entenda-se, mais importantes (!), referindo-se em particular à Matemática e ao Português, vertendo quer na retórica, quer na legislação que criou, uma profunda e confrangedora ignorância acerca da importância e do papel das artes na educação e formação do sujeito, e por arrasto, para o desenvolvimento e progresso de um país. Nem como matemático teve clarividência suficiente para perceber que a Matemática existe graças à imaginação e criação do ser humano! Sim, porque o raciocínio lógico ou abstracto exige imaginação, criatividade, engenho, entre outros, capacidades, estas, que representam o principal desígnio das disciplinas de ensino artístico.
Outra realidade que se verifica, nas escolas, é o caso de várias das actividades do PAA, propostas e organizadas por outros departamentos, que não o das Expressões, acabar por sacrificar, com alguma frequência, tempos lectivos das disciplinas de ensino artístico, já de si bastante reduzidos. O mesmo se verifica com os espaços de criação atrás mencionados.
Embora com algum pesar, até compreendo que a sociedade em geral, o dito povo, desconheça o valor das referidas áreas curriculares. Já no que respeita aos professores, o caso torna-se mais sério, diria mesmo, preocupante. Se não for pelo percurso académico ou pela formação contínua que um professor obrigatoriamente vai fazendo, o dia-a-dia, pelo menos, dá vários exemplos da relevância das disciplinas de expressão, não só na educação integral do aluno, mas também na vida e dinâmica de uma escola, também ela, é bom lembrar, produtora de cultura e cidadania. Mas infelizmente, e pelo que se vai assistindo, a esta cegueira não estará certamente alheia a checklist de programas televisivos do tipo fast-food, onde brotam os reality shows, ou da literatura cor-de-rosa que alguns dos ditos professores seguem, e que se percebe nas conversas que ocorrem aqui ou ali. Nestas, não poucas vezes se assiste a uma “desertificação” preocupante de ideias ou temas pertinentes.
Se analisarmos os países que habitualmente figuram no topo dos rankings europeu e mundial ao nível do desempenho educativo dos alunos, como a Finlândia, Japão ou Suécia, veremos que, não por mera coincidência, atribuem um merecido estatuto às artes no ensino, ou seja, uma igualdade de tratamento quer nos curricula, quer na organização das actividades lectivas e não lectivas.

Sinceramente, não vejo bons augúrios para o futuro do ensino e da educação em Portugal enquanto circularem mentalidades tão estreitas e emparedadas, como aquelas, no seio das escolas… e não só!