sábado, 6 de agosto de 2011

No tecto de África

No dia 27 de Julho, pelas 6h da madrugada, atingi o cume da mais alta montanha do continente africano, o Uhuru Peak, mais conhecido por Kilimanjaro, um vulcão extinto há muitos anos. Trata-se de uma montanha com 5895m de altitude, situada a norte da Tanzânia, na fronteira com o Quénia, e que faz parte de um parque nacional com o mesmo nome. Cheguei no dia 21, descansei apenas dois dias no hotel, e logo de seguida parti para a montanha para cumprir um programa de ascensão de seis dias. Para além do corpo logístico (carregadores, cozinheiro, serventes e guias), acompanharam-me dois companheiros que conheci no hotel, um australiano (Rod Woodward) e outro alemão (Johannes Herges). Durante esse período pernoitámos, ao todo, em 5 acampamentos, o mais alto situado a 4600m, e caminhámos cerca de 80Km. Desde o ponto de partida, a 1828m de altitude, até ao cume da montanha fizemos um desnível de 4067m.
A ascensão foi dura. É certo que também escolhi um dos itinerários mais exigentes, mais concretamente, a chamada Rota Machame, que se inicia a sul e termina ligeiramente pelo lado Este da montanha. Começámos à meia-noite em ponto, desde o acampamento 4 (o mais alto), numa ascensão vagarosa, tal como é típico em alta montanha. Até aos 5400m de altitude, aproximadamente, tivemos a cobertura de um céu limpo e estrelado. Os nossos cálculos apontavam para uma chegada ao topo a coincidir com o nascer do sol, e poder assim desfrutar das maravilhosas paisagens que habitualmente nos proporciona o raiar da aurora, mais ainda àquela altitude e naquele continente de cores quentes! Infelizmente, e a partir dessa altitude, o tempo começou a mudar, com a aproximação de nuvens e uma queda de neve miúda, mas a um ritmo considerável, que se foram acentuando à medida que nos aproximávamos do cume. Chegados aqui, registava-se uma temperatura de -10ºC, o que fez com que a minha máquina fotográfica “congelasse” e me impedisse de tirar fotos com a qualidade e quantidade desejadas. Enfim, a montanha é mesmo assim… imprevisível! Apenas consegui uma meia dúzia, e de fraca qualidade. Terminados os festejos pela conquista do cume, e porque as condições climatéricas não estavam para brincadeiras, decidimos baixar, depois de uma permanência de cerca de 15 minutos.
A descida foi mais custosa devido ao terreno muito deslizante, o que tornou mais árduo o regresso ao acampamento 4. Chegados aqui, descansámos cerca de duas horas, para logo de seguida retomarmos a marcha em direcção ao último acampamento, o 5º, situado a 3100m. Só num dia fizemos um desnível de 2795m. Aí permanecemos a última noite na montanha, já a sonhar com um tão desejado e prolongado banho no hotel!
A paisagem nesta montanha varia à medida que vamos subindo. Começamos por atravessar uma zona de floresta tropical, passando depois pela charneca, tundra, e finalmente por uma zona mais desértica, que mais fazia lembrar um ambiente lunar, onde pudemos ver algumas encostas majestosas, tão apetecíveis para a escalada alpina. Só mesmo no topo do Kilimanjaro é que encontrámos neve e gelo. Algumas estimativas apontam para o degelo total para o ano 2020! Enfim, uma situação preocupante e lamentável que se passa igualmente em outras zonas glaciares do globo!
Quer no hotel, quer no período em que estive na montanha, conheci várias pessoas de diferentes nacionalidades. Para além dos companheiros atrás referidos, conheci outras pessoas, com as quais tive o prazer de trocar algumas impressões sobre temas diversos. Para mim foi bom para praticar não só as línguas que já domino bem, o francês e o espanhol, mas sobretudo o inglês, aquela que necessitava de exercitar mais. As duas semanas de prática desta língua deram-me uma certa fluência e à-vontade nas conversações que experimentei.
Quanto aos tanzanianos, bem, pela experiência que tive apenas tenho a dizer que é, de um modo geral, um povo prestável, simpático e bem-disposto.


Nota: Na página de vídeos deste blogue encontra-se um sobre esta minha aventura por terras de África.