quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Espaço para as Artes e a para criação

“Nem só o que cria riqueza e emprego tem o direito de erguer os olhos para o céu em busca de uma luz que, em regra, lhe é recusada”.
José Jorge Letria

O Plano de Promoção das Artes (PPA), que decorre pelo segundo ano consecutivo no Agrupamento de Escolas Gomes Monteiro, de Boticas (AEGM), é um bom exemplo de como a escola pode e deve contribuir para a uma educação integral dos jovens. Ao contrário do que tem sido a prática de algumas escolas, que privilegiam o aumento da carga curricular de algumas disciplinas (em particular, a Matemática e o Português), já de si elevada e desproporcionada relativamente a outras que merecem igual destaque, o AEGM aposta, e bem, em espaços de aprendizagem não formais diversificados, que se cruzam e onde o aluno é protagonista de um processo que conta com diferentes dimensões, nomeadamente, a cívica, artística, estética, poética, cognitiva, afectiva e ética.
Contra o seguidismo acrítico de uma política educativa obtusa e reaccionária, engendrada pelo pior ministro da Educação do Portugal democrático, Nuno Crato, cujo foco, e em matéria curricular, pouco mais foi para além da Matemática, o AEGM decidiu-se por repor alguma justiça, ao “devolver” às disciplinas de Educação Musical, Educação Visual, Educação Tecnológica e Educação Física alguns tempos semanais, uma vez que estas têm vindo a ser desfalcadas de carga lectiva há vários anos. Mas este não é o grande propósito do PPA, mas sim, e de acordo com o supra-referido, o de dar um contributo expressivo para a formação holística do aluno, algo cada vez mais premente nos dias que correm.
A iniciativa do PPA partiu da subdirectora do AEGM, a professora Ana Luísa, também ela uma figura com sensibilidade estética e ligada às artes. Não surpreende, por isso, a ideia e o interesse em avançar para um projecto tão abrangente, que reunisse várias sinergias. Esta resposta educativa, de enorme valor, não exclui ninguém, nem fica apenas dentro de paredes. Para além das famílias, o PPA conta com o apoio da autarquia de Boticas.
Do pré-escolar ao 9º ano, incluindo a educação especial, ninguém fica fora da fruição das artes e da cidadania. Assim, e começando pela Educação Pré-Escolar, o PPA inclui o projecto “Oficina do Livro”, que integra e cruza áreas como a dança, teatro, expressão plástica, expressão musical, cinema e abordagem à escrita. No 1º Ciclo, o projecto “Educar para as artes” aborda, quer no âmbito do currículo, quer nas actividades de enriquecimento curricular, as mesmas áreas de expressão. Já nos 2º e 3º ciclos, a promoção das Artes faz-se através das seguintes 7 oficinas: leitura & escrita, dança, música, imagem, cor, forma e pintura. Esta última da minha responsabilidade.
Este ano, e volvidas apenas 4 semanas do início efectivo das actividades, o agrupamento conta já, só no total dos alunos dos 2º e 3º ciclos, com cerca de metade de inscrições voluntárias, sublinho. Ao longo do ano lectivo certamente que muitos outros irão aderir, tal como já aconteceu no ano lectivo anterior.
Outro aspecto de enorme relevância, que importa aqui destacar, é o intercâmbio que se verifica entre as diferentes áreas de expressão e as áreas curriculares.
As várias políticas educativas erradas, algumas gravosas e contraproducentes, verificadas desde há vários anos; a ignorância e os preconceitos relativamente às artes e à cultura, tantas vezes espelhado por governantes e muita da opinião pública; a desagregação da União Europeia, particularmente ao nível de políticas sociais; a ascensão de partidos xenófobos, são apenas algumas das razões mais que evidentes e alarmantes para se arrepiar caminho, tentar recuperar algum do tempo perdido, e dar o espaço que as artes e a cultura merecem na educação e formação do sujeito cidadão, quer no propósito de firmar a identidade de uma nação, quer na difícil, mas necessária consolidação dos laços entre povos, fazendo da Europa um verdadeiro lugar de interculturalidade e solidariedade.
De certa forma, o texto introdutório do presidente do Parlamento Europeu, Martins Schulz, num estudo encomendado pelo Grupo Europeu de Sociedades de Autores, apresentado a 2 de Dezembro de 2014 à Comissão Europeia, vai ao encontro deste ditame: “A Europa está assente numa história de partilha e num rico património de diversidade cultural. Esta herança é partilhada pelos povos da Europa como algo cujo valor nos é comum. Isso dá à nossa União a sua identidade e é o cimento que a mantém unida. Eis a razão pela qual a Europa deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para preservar esse legado. A cultura é um dos maiores investimentos e riquezas da Europa”.