segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

PRESIDENCIAIS - Ilusionismo vs. Cidadania


1.    Ilusionismo e Oportunismo
No nº47 do jornal Notícias de Aguiar apresentei um artigo a que dei o título, “Vou ter saudades de Cavaco”. Nele usei da ironia para fazer uma caricatura do desempenho do Presidente da República, agora em final de mandato. Pouco tempo mais tarde li um artigo, algures num jornal diário, em que o seu autor dizia que qualquer que fosse o próximo presidente seria sempre melhor que Cavaco Silva. No momento concordei com esta asserção. Todavia, depois dos debates televisivos entre diversos candidatos à presidência da República e das campanhas de rua, dei comigo a reconsiderar o meu juízo. É que Cavaco Silva nunca me suscitou dúvidas quanto ao que vinha. Nunca fiquei surpreendido com os seus discursos ou intervenções públicas, mesmo aquelas que causaram polémica. Poderia, e de forma simbólica, usar aquela expressão popular que diz, “A aparência revela a sua essência”. E nisto Cavaco Silva era indisfarçável.
Já o mesmo não se poderá dizer do ex-comentador, e agora candidato “à esquerda da direita”(!), o professor Marcelo Rebelo de Sousa. Os debates televisivos demonstraram, uma vez mais, a lata com que nega o que disse ou defendeu publicamente ao longo da sua carreira política e de comentador, bem como o descaramento com que cria factos (que o diga o Dr. Paulo Portas) e coloca na boca dos outros, aquilo que nunca disseram. Como diz o povo, “Na boca do mentiroso, o certo se faz duvidoso”. Ora uma figura destas, que com todo o desplante diz e desdiz, saltita de margem em margem, suscitaria muitas preocupações e intranquilidade, caso viesse a ocupar o cargo de Presidente da República.
Embora teime em não admiti-lo publicamente, é evidente que o professor Marcelo preparou cuidadosamente, ao longo de vários anos, a sua candidatura a Belém, usando e abusando do melhor palco que podia desfrutar para a construção e propaganda da sua imagem, ou seja, a televisão. No entanto, foi esta, através dos debates, sobretudo aquele que o opôs a Sampaio da Nóvoa, que teve o condão de lhe fazer cair a máscara. Negar, por exemplo, que esteve sempre colado à direita, o seu berço e residência partidária, e em particular às políticas de austeridade do anterior governo, é o mesmo que negar que a terra gira em torno do sol! Mas sabemos que Marcelo se presta a este tipo de comportamento camaleónico.
Durante as suas eucaristias dominicais na TVi, as críticas que o professor fez ao governo de Passos Coelho e Portas, para além de raras, tiveram genericamente um tom brando e inofensivo, pois a sua colagem à austeridade foi incondicional. Marcelo percebia que o país caminhava a passos largos para a pobreza e para o aumento das desigualdades sociais. No entanto, por razões ideológicas e por oportunismo (a ambição de conquistar Belém), preferiu manter “uma mão no cravo e outra na ferradura”, para assim garantir o apoio de PSD e CDS, o que se confirmaria, menosprezando o sofrimento dos portugueses. Agora, e por enquanto, para além de querer Passos e Portas afastados da sua campanha, tenta colar-se ao governo de António Costa, num claro piscar de olhos ao eleitorado de esquerda.
Entretanto, do Sr. Sabe Tudo, que só se ouve a si próprio, nesta campanha ainda não se conhece uma opinião consistente e séria sobre educação, saúde, segurança social, justiça, pobreza, emigração ou a desertificação e os problemas do interior do país. Não se conhece uma posição clara sobre a perda de soberania de Portugal face às instâncias europeias, o que faz deduzir que seria um presidente subserviente. Enfim, não se sabe efectivamente como e com que fins desempenharia o cargo de Presidente da República!

2.    Seriedade e Cidadania Participativo
Conheço António Sampaio da Nóvoa há vários anos, sobretudo de diversos livros e artigos que tem publicado, e que tive o prazer de ler, assim como de alguns congressos em que ele foi orador, e onde estive presente. Também é conhecido o trabalho meritório que desenvolveu enquanto reitor da Universidade de Lisboa e as inúmeras iniciativas cívicas tomadas ao longo de 40 anos. Em qualquer dos casos, e de uma forma genérica, o agora candidato sempre revelou coerência com aquilo que sempre defendeu, a saber, um país e um Estado que coloca em primeiro plano as pessoas, que luta por causas sociais, que defende a escola pública, que aposta na educação, ciência, investigação e inovação como motores para o desenvolvimento cultural, social, empresarial e económico. Um país e um Estado que aposta na coesão social e territorial, na formação de adultos, na qualificação, na educação para a cidadania, que valoriza e promova a língua e a cultura portuguesa. Um país e um Estado que, no respeito pelos tratados e acordos europeus e internacionais, não deixe de lutar pela sua soberania, tão desprezada nos últimos anos por Bruxelas e outras instâncias internacionais.  
Há pouco meses, por um feliz acaso, cruzei por Sampaio da Nóvoa no museu Amadeu de Sousa Cardoso, em Amarante. Entre outras personalidades, fazia-se acompanhar do ex-presidente Ramalho Eanes, um dos seus apoiantes. Não perdi a oportunidade de o cumprimentar e de ter uma breve conversa com ele, que durou poucos minutos, pois ele estava de passagem, em pré-campanha. Para além de o felicitar pela coragem que teve em candidatar-se à presidência da República, e de manifestar a minha admiração e apoio, aproveitei para trocar com ele algumas breves impressões acerca de algumas das questões atrás referidas. Tal como já esperava, Sampaio da Nóvoa, para além de amável, honesto, sincero e frontal, provou ser uma pessoa conhecedora dos vários problemas que afetam os portugueses, revelando a determinação (que o caracteriza) em lutar, caso venha a ser o próximo Presidente da República, para dar um contributo decisivo para lhes devolver a esperança e para uma melhoria das suas vidas, enfim, aquilo que ele tem chamado de um “tempo novo”. Disso não tenho a menor dúvida. Por isso, aceitei ser o representante da candidatura de Sampaio da Nóvoa pelo concelho de Vila Pouca de Aguiar. Espero que todos cumpram o seu dever cívico. Votem!