domingo, 28 de setembro de 2008

Leitura interior


Em inúmeras situações da nossa vida caímos na necessidade de desenvolver algumas cogitações sobre o caminho a tomar que consideramos mais acertado. Somos impelidos a reflectir sobre as nossas capacidades para atingir determinadas metas que traçamos. Nem sempre essa leitura resulta fácil, quer pelas condicionantes que se possam levantar, quer pelas consequências que poderão advir das decisões tomadas.
Certo parece ser que não nos devemos ficar por um mero exercício especulativo, pela presunção de que o nosso saber acumulado é, por si só, suficiente para atacar os desafios que nos afrontam. Tampouco deveremos confiar, de forma acrítica, em máximas, pois lembremos que estas se desenvolvem em determinados contextos sociais ou históricos, não sendo, por isso, passíveis de generalização abusiva. Estaríamos provavelmente a correr riscos se partíssemos do princípio que as mesmas garantiriam o sucesso dos nossos actos. Tal como metaforicamente sublinha F. Nietzsche (s/d), “Aquele que escreve com sangue e em máximas, não quer ser lido mas aprendido de cor. Nas montanhas o caminho mais curto vai de cume a cume; mas é preciso ter pernas altas. É necessário que as máximas sejam cumes e aqueles a quem as destinas sejam fortes e altos” [1]. Pois claro, a mera retórica pode-nos atraiçoar.
Impõe-se, claro está, uma leitura profunda do nosso interior, das profundezas do nosso ego. Este, tão complexo que é, deixa-nos, por vezes, num desassossego sem limites. Quem somos nós, o que queremos, para onde nos dirigimos são algumas das questões que nos colocamos. As respostas podem não chegar, ou então simplesmente tardar, e então aqui podemos cair no embaraço das opções a tomar. No entanto, este exercício filosófico não deverá inibir-nos de prosseguir o nosso caminho de problematização e de procura de soluções. A humildade, o bom senso e a determinação deverão aqui imperar. Reflictamos sobre a forma como germinaram os mais nobres feitos da humanidade!
Em jeito de conclusão, tomo emprestada uma reflexão, que considero sublime, de F. Nietzsche, que é bem ilustrativa da questão versada neste texto: “De onde vêm as montanhas mais altas? Perguntava-me eu, um dia. Aprendi que vêm do mar. O testemunho está escrito nas suas rochas e nas paredes dos seus cumes. O mais alto tem que atingir a sua altura a partir das suas profundezas”[2]. Saibamos, pois, aprender a conhecermo-nos.



[1] NIETZCHE, Friedrich (s/d). Assim falava Zaratustra. Colecção Grandes Génios da Literatura Universal. Amadora: Ediclube, p. 39.
[2] Op. cit., p. 137.