quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Na crista do Madejuno – Tiro Llago


No passado fim-de-semana, eu e o meu sherpa Carlos Tenji Rodrigues estivemos nos Picos de Europa. A escapadela para este maciço da cordilheira Cantábrica teve como principal propósito, a travessia de uma crista que une dois picos, o Madejuno (2513 m) e o Tiro Llago (2567 m), entre os quais se situam cerca de meia dúzia de outros tantos.
O percurso, com cerca de 800 m, representa uma das grandes clássicas do maciço central dos Picos de Europa, inaugurada por Pedro Udaondo, Ángel Llorente, Jesús Rodríguez e Arturo Fernández, em 1955.
Num sobe e desce de picos, feito de escaladas e rapéis, lá fomos palmilhando a via. Confesso que foi para mim uma grande satisfação ter respondido a esta empreitada, desde logo porque ela se revelou mais aliciante, porque mais exigente, do que estava à espera. Embora tratando-se de uma “escalada” acessível (cotada em III+), exige um compromisso sério, na medida em que uma simples distracção pode ser fatal, uma vez que falamos de uma crista ladeada por paredes que chegam a ultrapassar os 150 m, algumas delas verticais.
Dada a dimensão da via e das consideráveis diferenças com os inúmeros croquis, fotos e vídeos que previamente estudei, o percurso foi-se fazendo com base na descoberta, algumas hesitações, mas sempre com determinação e sentido de responsabilidade.
Também não faltaram algumas peripécias, o que aliás já é frequente, sobretudo comigo! Perda e recuperação (felizmente!) de objectos, pequenos desvios no traçado da via (o que é normal, dada a sua grandeza), andar aos “papéis” no nevoeiro, logo após ter terminado a travessia, e para finalizar, marchar mais cerca de 14 Km do que aqueles que estavam previstos, de noite, com nevoeiro e à chuva (porque perdemos o teleférico!) completaram o ramalhete, que já conquistou um lugar de destaque nas minhas memórias de montanha.
Recomendo vivamente esta aventura. Eu próprio não descarto a hipótese de lá voltar… acompanhado ou só.
Para finalizar, despeço-me com um vídeo, que representa apenas um "cheirinho" desta aventura:



domingo, 24 de agosto de 2014

Corno largo

Eram cerca de 9h45 do dia 16 de Agosto quando alcancei o ponto mais alto do Breithorn, em português, Corno largo. Trata-se de uma montanha que faz de fronteira Itália-Suiça com o Vale de Aosta do lado italiano e o Valais do lado suiço, fazendo parte dos designados Alpes valaisanos. Aquele é, como dizia, o ponto mais alto de um conjunto de cinco cumes que constituem essa montanha, nomeadamente, o Breithorn ocidental (4 164 m), o Breithorn central (4 160 m), o Breithorn oriental (4 139 m), o Breithornzwillinge (4 106 m) e o Schwarzfluh/Roccia Nera (4 075 m).
Atingido o cume ocidental, e depois de um período de contemplação da paisagem envolvente, diga-se, fascinante, decidi fazer a travessia até ao cume central. Fiquei-me por aí, pois os seguintes envolviam alguns riscos para quem, como eu, ia sozinho. A tentação foi muita, pois senti que o desafio estava ao meu alcance. Mas há momentos em que algo (por sinal de difícil explicação!) nos assoma na consciência e nos diz qualquer coisa como isto: “Deixa lá, já foi bom até onde chegaste. Além disso não te faltarão certamente oportunidades para voltar e fazer toda a crista”. E assim foi! Decidi descer, da mesma forma como fiz a subida: tranquilo e desfrutando cada momento, cada vista. Aproveitei ainda para registar quer na minha memória, quer com a minha máquina fotográfica, outras montanhas circundantes, relativamente próximas, onde nalguns casos eram visíveis os trilhos de ascensão. Isto, para mim, é de uma extrema importância para a planificação de futuras ascensões que venha a realizar neste maciço.
Confesso que inicialmente o meu projecto era outro, porventura mais ambicioso. No entanto, o desconhecimento preciso do terreno fizeram-me mudar de ideias. Refiro-me em especial à eventualidade (muito provável!) de ter que fazer atravessar glaciares. Uma empreitada pouco recomendável para quem caminha sozinho na alta montanha, mesmo já o tendo feito noutras ocasiões… ou algo bem mais arriscado!

O que importa realçar é que saí bastante satisfeito desta aventura. Ter a experiência e a felicidade de estar em plena montanha é, já de si, algo de muito gratificante, sobretudo para alguém tão apaixonado por tudo aquilo que ela nos oferece. 
Para terminar, fica aqui o vídeo desta minha aventura: http://youtu.be/VMYYzpfedMc?list=UUqkR-iI58tJtp-f426-LYZg

quarta-feira, 4 de junho de 2014

A minha primeira vez

No passado dia 1 de Junho participei, pela primeira vez, numa prova de corrida de montanha, ou como se tornou comum chamar, trail running, em Vila Pouca de Aguiar. Os dezoito quilómetros do percurso foram suficientes para testar a minha resistência física, força anímica e o meu ritmo de corrida. Há duas semanas tinha participado, também pela primeira vez, numa prova de estrada, a meia-maratona do Douro, na cidade do Peso da Régua. Quer numa, quer noutra posso sentir-me satisfeito com as performances que consegui. No entanto, retirei muito mais prazer da prova de montanha. Sem dúvida que esta tem outro espírito, na minha opinião menos competitivo, por se sentir uma maior aproximação entre os participante e sobretudo pelo espaço em que ela habitualmente decorre. Quero com isto dizer que há todo um ambiente em redor, recheado de um modo geral de boa disposição, camaradagem e situações hilariantes. O entorno, esse, é do melhor que se pode encontrar. Em plena natureza podemos naturalmente tomar contacto directo com a montanha, rios, lagoas, animais, pessoas, etc., ainda que em permanente movimento.
Penso que o “bichinho” ficou! Veremos no futuro…
Uma das razões por ter participado no trail running, no início a principal, foi a de proporcionar um reforço na minha preparação física, para assumir desafios mais exigentes a nível do alpinismo, o meu desporto de eleição. Testar e treinar a capacidade de esforço e de sofrimento, em que o psicológico está sempre presente, é sem dúvida uma mais-valia para enfrentar os reptos que a montanha nos coloca.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Um carnaval com Nadir



Foi com muita satisfação e orgulho que vi, hoje, a minha canalhada do 5º ano participar no desfile carnavalesco da escola, pelas ruas da Vila de Boticas. Dos muitos desfiles de carnaval escolar em que já participei, tantos quantos os meus anos de tempo de serviço, este teve uma particularidade e um gostinho especial.
Comecemos pelo debut.
O tema que nos fora sugerido pela comissão de organização do desfile do nosso agrupamento de escolas, para os quintos anos, foi “Nadir Afonso”. Uma merecida homenagem a este grande artista, recentemente falecido.
Devido a um atraso na recepção dos materiais necessários para a construção dos adereços, tive que improvisar, sobretudo na gestão do tempo, dado o escasso número de aulas de que dispunha para pôr mãos à obra. Comecei por uma visita de estudo ao Centro de Artes Nadir Afonso, na sede de concelho, com a minha direcção de turma, o 5ºC, actividade essa que se repetiria com as outras turmas, desta vez sob a orientação das respectivas directoras, duas belas e esculturais professoras. Nesse belíssimo espaço de arte, todos pudemos fruir a criação do mestre Nadir. Sem dúvida que as telas deste artista, pelo diálogo constante entre linhas e cores, cativaram o público juvenil… no qual naturalmente eu me incluo e confundo! E assim se “queimaram” duas aulas. Sobravam mais duas. O material, cartolina Bristol, entretanto chegara. Começava o contra-relógio!
Partindo das imagens que as mentes da miudagem conseguiram reter, e sob a orientação do sujeito que agora escreve (diga-se, um espécime de pouca confiança!), rabiscou-se as cartolinas numa aula, e deu-se cor e vida numa outra. Entretanto ainda sobrou tempo para improvisar umas paletas em cartão, povoadas de borrões de tinta. De realçar o contributo das jeitosas acima referidas, que trataram de “borrar” as caras aos miúdos e enfiar-lhes uns barretes (incluindo no sentido figurado)! Valha-me Deus!
Todo o resto é só vê-lo nas fotos que acompanham este breve relato de um dia de Carnaval, em que os meus, os nossos meninos e meninas foram a verdadeira atracção e surpresa do corso.
Para finalizar, parabéns à organização, a todas as outras turmas, professores, funcionários, e outros que tais… que agora não me lembro!

domingo, 12 de janeiro de 2014

Metamorphosis

Encontra-se patente no Teatro de Vila Real, desde o dia 6 de Janeiro, e até ao final do mês, uma exposição de aguarelas de minha autoria, com o tema, Metamorphosis. Assim como da larva amorfa e vagarosa emerge uma periclitante borboleta, no geral um insecto de formas e cores atractivas, segundo um processo de transformação complexo, também um conjunto de casas velhas, algumas em ruínas, podem metamorfosear-se noutras, de formas, linhas e cores com maior ou menor exuberância. Vida, movimento, irreverência e linhas de fuga marcam a dinâmica das figuras que são protagonistas em cada uma das composições visuais.