
Se virmos bem, pelo menos nós, professores, a percentagem de “feriados” sempre foi irrisória, quando comparada com o quadro global de assiduidade dos professores. Por outro lado, existem professores que, não sendo os mais assíduos, conseguem proporcionar um maior número de aprendizagens que outros que o são. É uma questão de, primeiro, vocação, segundo, de organização e eficiência. Além disso, conhecemos, nós professores, as implicações e complicações inerentes a uma substituição de um colega faltoso: muitas vezes o professor substituinte não é professor da turma, da disciplina em questão, ou ambos os casos; outras vezes o professor que faltou não deixou ou não teve tempo de deixar um plano de aula; noutros casos, o professor substituinte nem sequer devia estar no ensino (!); noutros, o espaço de aula não se adequa à disciplina ou à aula a leccionar; e… não me lembro de mais nenhuma situação! Mas algo me diz que teria mais alguma a acrescentar! Mas o pior é a (pouca ou nenhuma) motivação dos alunos para frequentar uma aula que lhes retirou a possibilidade de desfrutar de momentos de prazer e, claro está, de aprendizagem não formal ou informal.
Não percamos tempo a cogitar sobre a forma como os alunos aproveitariam os ditos tempos livres. Eles sabem-no bem como fazê-lo! Simplesmente porque nós, quando éramos da idade deles, também o sabíamos. Não é preciso muita imaginação e criatividade para tal. Os próprios pais e encarregados de educação encarregam-se de tal nobre tarefa educativa.
Vamos ao que interessa. Então o tempo livre dos catraios e gandulos não pode ser aproveitado, de forma mais ou menos pedagógica, para, por exemplo (vejam só esta minha mente iluminada!), passear e apreciar os espaços escolares (espaços públicos e, por isso, passíveis de desenvolver acções e competências de cidadania) e partir daí, quem sabe (!), para a apresentação de propostas de embelezamento destes mesmos, tornando-os, quiçá, mais funcionais; fazer uma visita à biblioteca de livre e espontânea vontade e não obrigados; jogar, praticar desporto; frequentar clubes; dialogar com outros agentes educativos do espaço escolar; fazer novas amizades; namorar… sim, namorar, e tudo aquilo que este acto instintivo acarreta ou determina numa relação natural e necessária para dar resposta a necessidades afectivas e para o próprio equilíbrio emocional do aluno? Outras formas de ocupar os “feriados” poderiam ser aqui relatadas mas, para além de eu não ser obrigado a lembrar-me de tudo (!), importa-me explorar esta última, lembro: namorar.
Num momento em que a educação para a saúde, e em particular a educação sexual, entraram, em termos formais, nas escolas, as crianças e jovens necessitam indiscutivelmente de um espaço e de uma ocasião para desenvolver as suas relações afectivas e amorosas, imprescindíveis ao desenvolvimento interpessoal e para o próprio processo de sociabilização. Alguém terá consciência dos males que provocam ao limitar o conjunto de aprendizagens inerentes a este acto humano? Muitos alunos encontram na escola o único espaço e período em que podem estabelecer relações de amizade e de afecto com o próximo, e assim procurarem dar resposta a necessidades vitais. Deixemo-nos de hipocrisias e sejamos conscientes e racionais, quando tomamos decisões que podem influir, positiva ou negativamente, no crescimento, maturação e comportamento dos alunos.