quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Os zangados

Na generalidade, algo que têm em comum os líderes de partidos da extrema-direita ou direita radical, enfim, o que lhe quiserem chamar, é o ar e a postura de zangados. Parece que andam sempre de mal com a vida. Para além de partilharem, grosso modo, o mesmo ideário, destacando-se a luta contra a imigração, contra a identidade de género, a defesa do nacionalismo étnico, a rejeição das elites, etc., o seu discurso é habitualmente marcado pela agressividade, ódio, insultos, ataques de carácter, misoginia, mentira, xenofobia, arrogância, radicalização, divisão da sociedade e por aí adiante.
Comecemos por alguns exemplos no continente europeu, realçando os mais sonoros: o arguido Matteo Salvini, do Liga Norte, Santiago Abascal, o “duce”do Vox, Marine Le Pen, do Rassemblement National, Viktor Orban, primeiro-ministro húngaro e líder do Fidesz, ou então por cá, o Sr. Ventura, mais um irrevogável, uma cópia desbotada aspirante a entrar na liga profissional.
Do lado de lá do Atlântico, para além do agora menos mediatizado Jair Bolsonaro, temos o louco da Argentina, Javier Milei e, claro está, o sumo pontífice, o líder supremo da irmandade, o patológico Donald Trump. Está instalada a insanidade desbragada ou, como diz Pacheco Pereira, em referência ao contributo funesto das redes sociais na decomposição das sociedades, a “Cloaca Maxima”[1].
Para além da histeria, do histrionismo e da demagogia que tais figuras regurgitam, apresentam-se como líderes fortes, messias que irão salvar o mundo, que prometem soluções fáceis para problemas complicados, com toda a fantasia e extravagância que a imaginação lhes concede. Veja-se a história dos imigrantes haitianos que andam a comer cãezinhos e gatinhos dos nativos americanos! Seguem-nos as moscas, que não os largam. Tal é a fragrância que as atrai!
O espaço e a acção dos líderes democráticos têm estado fortemente condicionados pela bolha populista e toda a máquina propagandística que a sustenta. No entanto, alguns vão resistindo, não atiram a toalha ao chão, em prol dos valores da democracia, da liberdade e do Estado de Direito. Mas tal não evita que assistamos a algumas brechas que se vão abrindo neste edifício que urge proteger. Veja-se as consequências que está a ter o discurso securitário da extrema-direita sobre governos democráticos, como aconteceu muito recentemente na Alemanha, precipitado pelas conquistas da AfD nas eleições estaduais.
Voltando aos Estados Unidos, Kamala Haris, em contraponto ao estilo quezilento do seu opositor, tem desenvolvido a sua campanha com base na empatia, sem deixar de ser combativa e de abordar os temas que verdadeiramente importam à sociedade americana, com o foco na defesa da democracia e das liberdades. O mesmo se poderá dizer do seu candidato a vice-presidente, Tim Walz, que segue o mesmo registo.
Do lado oposto, na extrema-esquerda, os exemplos também abundam, mas tomo apenas um caso, porque tem sido o mais mediatizado nos últimos tempos, o de Nicolas Maduro. O presidente da Venezuela, para além de partilhar algumas características dos seus "companheiros” da extrema-direita, tem a agravante de estar no poder, com todas as conhecidas consequências nefastas para o país e para o seu povo.


[1] Cloaca Máxima (em latim: Cloaca Maxima) é um dos mais antigos sistemas de esgoto do mundo, construído na cidade de Roma para drenar os pântanos locais e remover os dejectos de uma das cidades mais populosas do mundo na época, despejando-os no rio Tibre. O nome significa literalmente "Maior Esgoto" e, segundo a tradição, a Cloaca teria sido construída inicialmente por volta de 600 a.C. por ordem do rei Tarquínio Prisco. (Wikipédia)