domingo, 2 de agosto de 2015

Vou ter saudades de Cavaco!


Nunca um presidente da República me divertiu tanto e deu tanto aso à minha imaginação, como Cavaco Silva. Com as suas tiradas públicas, creio, inclusive, que os próprios partidos da oposição encontraram, no mais alto magistrado da nação, o melhor e mais fiel aliado que poderiam desejar. E têm-no. Os seus “Roteiros”, onde reúne as suas principais intervenções públicas, são, veja-se, um autêntico almanaque, que nalguns momentos chega a confundir-se com um anedotário.
Deixando o comentário desses colossais tratados filosófico-políticos entregue a grandes vultos da cultura e sapiência, tais como os insuspeitos Camilo Lourenço, João Miguel Tavares, João César das Neves, Alberto Gonçalves, Nuno Melo, Pais Antunes e outros membros da academia, vou apenas glosar alguns dos momentos mais hilariantes protagonizados pelo nosso presidente da República, nos instantes em que é interpelado pelos jornalistas, ou quando faz comunicações ao país.
Embora a dicção e o timbre de voz não lhe sejam abonatórios, já para não falar na sua postura hirta e o seu caminhar autómato, certo é que Cavaco Silva, em resposta às interpelações daqueles profissionais da comunicação, é letal quando faz uso da sua arma secreta: “Não faço comentários”. Toma lá! Isto só demonstra toda a sua genialidade, de fazer inveja a um Churchill. Faz-me lembrar uma resposta que por vezes me era dada, quando era miúdo (embora com outras intenções!), e que era: “Calado dizes tudo!”.
Sem o mínimo rigor cronológico, simplesmente porque não estou para me dar a esse trabalho, começaria pela reforma de Cavaco Silva. Dissera ele, em tempo idos, que a sua miserável reforma de 10.000€ mal dava para pagar as suas despesas. Mas alguém duvida? Só mesmo essa seita costumeira de invejosos e arruaceiros para condenar o nosso estimado presidente, esquecendo-se da freima que é governar uma moradia como a do Palácio de Belém. Já alguma vez pensaram na conta da água, agravada pela rega diária das centenas de metros quadrados de jardim que o rodeiam? Na da electricidade, agravada pelo uso intensivo do meio privilegiado de ‘comunicação’ de Cavaco Silva, o Facebook, para manter um animado e elucidativo monólogo com, como ele diz, os “cidadões”? E a conta do telefone? E o mordomo? Não me perguntem qual deles! A criadagem? Espanta-me que Isabel Jonet ainda não tenha tomado nas mãos este caso humanitário dramático!
Só há uma em que não estou de acordo com o nosso presidente, aquela da penosa operação aritmética que há pouco tempo fez, a propósito da eminente saída da Grécia da zona euro. Dizia então o nosso presidente que se se desse o Grexit, teríamos que subtrair uma unidade a 19 (os países do Eurogrupo), resultando daí 18 unidades. Ora eu estou mais inclinado para a equação que alguns reputados economistas apontam, e que é: 19 – 1 <=> 19 – PIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha)
E que dizer de alguns dos condecorados pelo nosso presidente, tais como, Zeinal Bava, Miguel Horta e Costa, Dias Loureiro, Oliveira e Costa…?
Mas a melhor de todas, foi quando, no dia do anúncio da marcação da data das próximas eleições legislativas, Cavaco Silva defendeu que o próximo governo deverá (reparem, eu não disse “deveria”!) ter o apoio de uma maioria parlamentar, pensando obviamente numa coligação PSD/CDS. Disso não tenho a menor dúvida, pois segundo fontes fidedignas (as mesmas que violam sistematicamente o segredo de justiça), no dia anterior, enquanto preparava a dita e complexa comunicação frente ao espelho da casa de banho, o nosso presidente envergava o equipamento alternativo do FCP, das temporadas 1997/98 e 1998/99. Lembram-se, aquele de cores laranja e azul?

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