quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O espectro dos “ismos”


Há muito tempo que vêm prosperando. Eles estão aí: populismo, nacionalismo, racismo, proteccionismo e outros “ismos”. São crescentes as manifestações xenófobas e racistas que se vão registando e alastrando no seio da Europa, tal como se verifica noutros continentes, especialmente no americano.
Nos últimos anos a extrema-direita tem vindo a crescer em vários países, ao ponto de ter aumentado o seu número de deputados nos respectivos parlamentos, e até mesmo integrado governos. O caso mais recente ocorreu nas eleições legislativas da Suécia, com o partido de extrema-direita, o SD (Partido dos Democratas), a tornar-se a terceira força no parlamento, graças a um discurso securitário, anti-imigração e limitador dos direitos soci­ais. Imagine-se, o país de Olof Palme, que ao longo de décadas representou um dos bastiões da social-democracia europeia e um paradigma do Estado social!
Embora o problema já venha muito detrás, agudizou-se em 2015, com a chegada massiva de emigrantes, sobretudo do norte de África, fugindo da fome e da miséria, bem como dos conflitos armados, especialmente da guerra da Síria. Embora esse êxodo viesse a decrescer significativamente até à data, tal não impediu que partidos xenófobos e nacionalistas fossem ganhando terreno. Na Alemanha, nas eleições gerais de 2017, o partido de extrema-direita Alternativa para Alemanha (AfD) tornou-se a terceira maior força política no Bundestag. Na Áustria, em Dezembro do mesmo ano outro partido de extrema-direita e anti-imigração, o Partido da Liberdade, chegaria ao governo, coligando-se com os conservadores. Na Itália, o partido nacionalista de Matteo Salvini faz parte do governo italiano, sendo bem conhecidas as suas recorrentes posições e iniciativas populistas e xenófobas. Que dizer então do seu “compincha” húngaro, Viktor Orbán?! Outros países têm nos seus governos partidos da mesma estirpe, como são os casos da Dinamarca e Finlândia. Alguns deles já têm inclusive assento parlamentar no Parlamento Europeu, conquistando assim poder nas decisões políticas para a União Europeia.
Em Portugal as manifestações xenófobas para com imigrantes ou minorias étnicas não são de somenos importância, tal como espelham os dados fornecidos pela Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR), ou ainda a European Social Survey. O fenómeno tem vindo a crescer nos últimos anos, levando a própria secretária de Estado da Igualdade, Rosa Monteiro, a afirmar recentemente que "Portugal é um país com manifestações de racismo e de xenofobia".
Entretanto lembremos que as posições anti-imigração não se ficam apenas pela extrema-direita. No dia 4 deste mês a Alemanha ficou a conhecer um novo movimento de esquerda, o Aufstehen, também ele com um discurso anti-imigrantes. Fundado pela líder parlamentar do partido de esquerda Die Linke, Sahra Wagenknecht, e pelo seu marido Oscar Lafontaine, ex-militante do Partido Social-Democrata (SPD), este movimento surge, estrategicamente, como resposta à ascensão do partido de extrema-direita AfD, e faz uso de um discurso populista, defendendo igualmente políticas mais duras contra imigrantes.
A recente morte de um alemão em Chemnitz, decorrente de uma briga que supostamente terá envolvido um sírio e um iraquiano, veio acicatar ainda mais os ânimos, despoletando as manifestações xenófobas e anti-imigração que se seguiram nessa cidade alemã, com milhares de manifestantes de extrema-direita a virem para a rua protestar contra a presença de imigrantes no país. Igualmente preocupante é o crescente número de grupos organizados que se dedicam a perseguir e atacar estrangeiros. Para além da Alemanha, encontramos estas milícias anti-imigrantes na Bulgária, Hungria, Finlândia, Dinamarca, Holanda, entre outros.
Sobre este sério problema, o presidente da Comissão Europeia, Jean- Claude Juncker, no seu discurso sobre o estado da União, proferido no passado dia 12 no Parlamento Europeu, fez sucessivos apelos à unidade, lembrando que se há paz no continente, tal se deve ao projecto europeu, sendo imperativo, por maioria de razão, “mostrar respeito, parar de arrastar o nome da União Europeia pela lama”. Em tom grave, Junker apelou para que se abandonassem “os ímpetos nacionalistas que projectam o ódio e destroem tudo pelo caminho”, numa clara alusão ao discurso político populista e xenófobo que tem vindo a ganhar terreno em vários países.
Na cimeira da semana passada em Salzburgo, e tal como se esperava, nenhuma luz se vislumbrou ao fundo do túnel. Países como Itália, Hungria, Polónia, Áustria, República Checa, entre outros, mantêm as suas posições de obstaculizar a entrada de imigrantes e a rejeição da distribuição dos que já cá estão. Interpelado por um jornalista sobre a solução para a crise migratória, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, com o cinismo que lhe é característico, respondeu que era simples: “É não os deixar entrar e mandar de volta para casa os que estão cá dentro”. E assim vai a (des)União Europeia! 

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